Crítica: Avatar


Quando fui ao cinema sem muitas expectativas (pois ultimamente elas tem servido para a decepção) era um dia comum. A humanidade estava "voltada", bem entre aspas, para a Conferência do Clima e eu com a cabeça cheia das matérias que venho estudando depois que decidi mudar.

Em cima da hora cheguei a sessão de Avatar, novo filme de James Cameron. O currículo desse "rei do mundo", apesar de curto, é invejável, indo desde Aliens, O Resgate, passando por O Exterminador do Futuro 1 e 2 e O Segredo do Abismo, e chegando a Titanic. Apesar da mente por trás da obra e de todo o alarde que antecedeu sua estréia, preferi me abster das conclusões prévias, deixando a cabeça aberta.

Pois bem. Após quase três horas de exibição, a sensação que eu tinha era de puro êxtase. E retornando ao Caio em Coluna, vim expressar meu furor pela obra de Cameron e seu paralelo com nosso decepcionante modo de vida.

Avatar ultrapassa qualquer expectativa e é sem dúvida uma das mais belas histórias já imaginadas, principalmente por sua concepção visual, nos transportando para o mundo de Pandora, fantástico e ao mesmo tempo factível. Vi assombrado um povo nativo, os Na'Vi, com costumes, crenças e uma ligação tão profunda entre eles e seu mundo que me perguntei porque estava ali, numa maldita poltrona de um cinema térraqueo! Ansiei por sua cultura, natureza, história, e acima de tudo, desejei ser um deles. Mas não podia, então restou contemplação apenas, e ao sair das cores fulgurantes daquele sonho para a "luz" de meu mundo moribundo, veio a decepção.

Desde sábado para cá venho pensando no filme e na frustração que é o lugar onde vivo, e não me refiro apenas ao meu umbigo.

Em plena época de chances de renovação, possibilidades de consciência, assisti na semana passada, inutilmente, à palhaçada da COP-15, a conferência do clima. Líderes de todo o planeta reunindo-se a fim de salvar o chão sobre seus pés sem tirar as mãos dos bolsos e a mente do poder. E alguns céticos burros ainda juram que nada vai acontecer, pois o aquecimento global é só um mito. O que surgiu foi um acordo chinfrim firmado entre alguns países, não todos, mas sem qualquer teor legal, e nada vezes nada resultou em nada.

Antes andava angustiado sabendo que os poucos traços humanos nos seres humanos se esvaiam, e que esse escoamento varria o que Terra tinha de bom pra oferecer. Hoje estou apenas decepcionado, pois sei que pouco será feito e muito está para acontecer. Pena que os parcos traços de Pandora aqui existentes vão sumir até virarem pó e que nosso destino será diferente do dos Na'Vi, até porque não tinha como ser de outro jeito. Nem muito chapados conseguiríamos viver em sintonia com o que nos foi dado. Distorçemos até nosso Deus, que se ainda existe, deve ser o oposto do que acreditamos. Se eu fosse ele já tinha jogado a toalha e calçado as botas para caminhar pelo espaço à procura de outro planeta para reger.

É realmente uma pena que uma conferência para sanar nossos maiores problemas vá no caminho contrário do desenvolvimento sustentável, como afirmou certa pré-candidata a nossa presidência brasileira ilustre.

Desenvolver-se é estar em comunhão, e nada mais, como bem mostrou Avatar. Resta-me gastar meus parcos reais para visitar os Na'Vi uma vez mais, e ao seu mundo fantástico merecedor de longa vida.

Parabéns a James Cameron por sua plena consciência ambiental.