Crítica: Onde Vivem os Monstros


Há certo tempo havia visto o trailer de uma produção no mínimo, digamos, intrigante. Com belíssimas canções e imagens inacreditáveis, surgia Onde Vivem os Monstros, produção de Spike Jonze, baseada no livro de Maurice Sendak.

Muitos poderiam torcer o nariz para "mais uma obra infantil bonitinha", mas eu não entrei nessa. Preferi aguardar... Até que nos últimos dias assisti ao filme.

Bem, vamos à algumas conclusões: vá assistir a obra chapado, pois de qualquer outra forma você sairá chapado da sessão. Muita viagem, no sentido metafórico, infinitas mensagens subliminares, coisas de psicologia e tal. Não há como não se perguntar o porquê de determinadas tomadas na tela ou curvas da história. Acredito que Sendak deve compartilhar do gosto de Alan Poe pela bebida para poder escrever seus textos.

Prepare-se também para adentrar num mundo fantástico, exótico, de poucos motivos e muitos acontecimentos, uma verdadeira viagem profundamente surrealista e bela. O mundo dos monstros é absurdo e completamente palpável, se focarmos pela ótica de Max, o garoto-protagonista.

Por fim, tenha certeza que você, espectador, não terá certeza de nada, então relaxe e apenas aproveite essas criações maravilhosas do menino. E eis aí, um dos pontos mais fortes da obra: a realidade e a invenção como paradoxos e superposições.

Alguns dias se passaram desde que vi o filme, mas não paro de pensar se o mundo onde vivem os monstros é pura invenção de Max ou realidade. Poderia o garoto, para fugir de seu dia-a-dia deprimente de uma mãe ausente, um pai amigo distante e a falta de crianças de sua idade, criar esse lugar de faz-de-conta? Ou sua viagem foi verdadeira e lhe trouxe ensinamentos para sua vida dali em diante?

Não dá pra saber, mas fica uma das passagens que podem fazer a conclusão tender para um dos lados: quando Carol, um dos monstros se enfurece, arranca o braço de outro monstro, um amigo, e não há sangue, nem dor. E com um sorriso no rosto podemos contemplar em cenas seguintes esse mosntro que teve seu membro arrancado, substituí-lo por um galho em formato de braço, e para todos, inclusive para Max, é a coisa mais natural do mundo. Fica a suposta idéia de que não passa de imaginação.

Se for, pena que um rapazinho tenha que fugir para uma realidade alternativa apenas para não ter que encarar nosso triste mundo frio.