Crítica: O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus


Bem, recentemente vi o tão comentado O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus, obra de Terry Gillian, e último filme do finado ex-promissor ator Heath Ledger. Deixando de lado as já inúmeras linhas sobre este ser o último trabalho de Ledger, das substituições de seu papel pelos amigos Depp, Law e Farrell e de um roteiro um pouco perdido devido às alterações indesejadas, vou adentrar num aspecto menos técnico dessa película. Antes de mais nada, vale salientar que assisti ao filme num release com uma imagem não tão boa que mais parecia filmagem do próprio cinema, o que também prejudicava o som, mas para mim tais defeitos se encaixaram como uma luva. Já explico o porquê... Vamos ao filme.

Não pude não me apaixonar pelos personagens que brotam na tela logo de cara: o decadente e velho beberrão que dá título ao filme e seus assistentes, um jovem explosivo, sua filha linda e rebelde e um anão espevitado, irônico e sagaz (de longe, a melhor persona da obra). Estes formam uma trupe que percorre as ruas sujas de Londres em busca de audiência para alguma experiência esquisita, que logo se esclarece.

Quando jovem, Dr. Parnassus, um apostador inveterado, resolveu jogar com o diabo. Conseguindo a imortalidade, o pobre doutor não parou mais de apostar. Era um jogo após o outro e o tal do diabo sempre renovando seus "contratos" a fim de que a diversão nunca terminasse. Os joguinhos sempre tinha como objetivo a aquisição de almas. O doutor deveria tentar trazê-las para seu lado através do seu poder mental capaz de criar o imaginário, um mundo tão fantástico e impossível quanto o espelho que as pessoas deviam atravessar para adentrá-lo, enquanto o diabo tentaria conduzir tais almas pelo caminho oposto: o do medo guardado em cada um.

Uma das últimas apostas feitas pelo doutor tinha como prêmio sua filha, e como prazo a idade que ela completaria 16 anos. O grande problema de Parnassus e sua trupe incansável é que essa data estava mais próxima que nunca, e o interesse das pessoas pelo seu show e seu espelho diminuía visivelmente em meio ao dia-a-dia mundano e ineficaz em relação à imaginação. Tudo muda quando um estranho surge no caminho, e esse é Heath Ledger, num papel de um desmemoriado suicida que com sua lábia começa a convencer o auditório escasso a adentrar no "imaginarium".

Quando era pequeno, via a filmes como O Vôo do Navegador e outros que agora não me recordo o nome. Eram aquelas tardes indolentes após os deveres do colégio e a Sessão da Tarde e o Cinema em Casa com seus filmes clássicos me cativavam. Agora, imaginem, caros leitores, uma criança com uma imaginação fertilíssima diante de uma TV assistindo a filmes de ficção e fantasia! Não sei se pela minha inteligência criativa ou por obra dos roteiros, mas sempre achava tais filmes muito "viajados". Não compreendia muitos pormenores, e era extremamente feliz com isso. Quisera eu hoje entender menos de tudo. Agora, junte à fantasia e ao não entendimento, uma imagem de um canal de TV não tão nítido assim e o que você tem? Uma viagem única e espantosa ao inconsciente infantil.

Agora, como sempre, você me pergunta, fiel leitor: e o que essa relicário de sua infância tem a ver com Dr. Parnassus? Tudo, tudo.

Pensem como foi contemplar esse filme de enredo confuso, com uma imagem ruim e um som ecoante, além de sua fantasia quase infantil e maleável... Voltei aos meus filmes de infância!

Então, posso afirmar que, se você ainda tiver a capacidade de concentração e fluidez de um infante, leitor, O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus é perfeito. Caso não, desista. Nem perca tempo o vendo, pois achará enfadonho e sinuoso.

É isso.