Prosa e pensamento: O pré-conceito do preconceito


Nos últimos dias um caso repercutiu bastante por todas as mídias: a história de Mayara Petruso, estudante paulista de direito, que proclamou em seu Twitter uma caça às bruxas para com os nordestinos. Agora o caso já foi parar na justiça devido suas insinuações preconceituosas e de incitação ao assassinato. Tenho algumas ideias em mente sobre o ocorrido e vou tentar ordená-las, então vamos com calma.
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Antes de mais nada, o que essa garota disse em sua rede é de conteúdo pesado que não se espalha aos quatro ventos de forma tão impensada. É desprezível, pois julga todo um povo sem qualquer argumento, sob nenhum prisma. Não há qualquer ponto de vista racionalmente estruturado ou sequer lógico sobre o qual se possa fundamentar uma discussão e entender os aspectos de tais comentários. Ou seja, em suma, o que a garota escreveu não passa de uma frase bruta e injustificada.

Nesse momento uma pausa seria oportuna para críticar um atributo que sempre apontei como um problema nesse tal de Twitter: em que mundo de 140 caracteres é possível se tecer um comentário tão complexo como o dito por Mayara e embasá-lo? O Twitter é uma ferramenta castradora e frustrante para qualquer um que goste ou tente discutir uma ideia com certa inteligência. Sinceramente, não acredito que a rede social tenha sido o problema no caso da menina - acho que foi mais uma mentalidade de 140 caracteres que a levou a isso - mas mesmo assim, fica aqui uma vez mais explicitado o que penso sobre o passarinho azul e sua falta de potencial, ou capacidade de cortar pela raiz o potencial da maioria. O twitter é um verdadeiro retrocesso para a nossa sociedade e para a teccnologia como um todo que já tem problemas de socialização e comunicação, e quando esta comunicação já é erroneamente utilizada em blogs, orkuts e facebooks pelo mundo, minimizada por demais, o que se dira dos 140 caracteres?

Bem, voltando ao caso, o condeno como a maioria se olharmos apenas pelo ângulo que já defendi no segundo parágrafo. Porém, não sou todo ódio para apenas querer apedrejar a tal garota como se ela usasse uma burca. Essa semana mesmo vi uma reportagem curtíssima num dos telejornais da vida que mostrou uma casa encontrada por policiais onde se procriava todo tipo de propaganda neo-nazista, onde planos para atacar negros eram fomentados e até armas eram mantidas. E o que houve além dessa nota no jornal? A resposta é nada. O que quero dizer com isso, caro leitor? Ora, não sejemos hipócritas. A frase twittesca de Mayara Petruso foi triste sim, mas não foi o pior que há nesse mundo quado se de sobre racismo e preconceito, e o que casos mais potencializados ganham no dia-a-dia? Nada além de alguns segundos na TV. Sendo assim, encerrando esse meu segundo argumento, acredito que a coisa está sendo levada a sério em demasia, talvez porque nós, nordestinos, sejamos aqueles cabras-macho que não levam desaforo para casa, talvez porque simplesmente alguém resolveu tabloidiar a coisa... Não sei. Apenas penso que na justiça deve ser resolvido o caso e só. Para que criar tanto com tão pouco?

Agora posso entrar na terceira parte dessa minha infinita discussão, e o faço com uma questão: Quem aqui não tem preconceitos?

O ser humano é e sempre foi uma raça segregadora. Coisas como egoísmo, divisão e competitividade brutal são raízes do nosso ser que só são contidas por causa de suas leis e governos. Eu mesmo faço questão de me colocar na linha de frente. Basta ler determinadas postagens do Caio em Coluna para perceber que tenho preconceitos contra pagodeiros, bregueiros, crentes e pessoas que chamo de deficientes culturais de uma forma geral. Claro que minha maneira de externar isso tende a ser mais velada que a utilizada por Mayara, tende a ser mais tragicômica ou mesmo uma crítica social, porém não acharia nada ruim se do mundo desaparecem alguns tipos de pessoas que considero como "um atraso" para aquilo que é bom e para o que se deve dar valor. Quem nunca pensou assim? Ou de forma semelhante? Ou mesmo de um jeito diferente, mas que no fim incorre no preconceito também? Evidentemente que há diferenças entre o que eu defendo e o que a garota do twitter fez. Tento embasar minhas ideias e explicar porque penso dessa forma. Esforço-me para estender esse preconceito para além das barreiras de um comentário apenas maldoso sem qualquer sinal de inteligência ou violência, e não deixá-lo apenas na camada superficial do preconceito, mas elevá-lo a um nível que possa ter alguma serventia.

Enfim, meus caros leitores que me seguiram até aqui, creio sinceramente que o que Mayara Petruso proferiu em sua página foi uma facada nas costas de muita gente e foi simplesmente errôneo por não conter qualquer resquício de neurônio naqueles infames caracteres. Mas por minha ótica, se ela tivesse elaborado uma frasesinha que fosse que defendesse sua maneira de pensar, mal ligaria para o que uma garota que nem conheço disse sobre minha "raça". Sendo assim, só torço para que meus queridos "compatriotas" apenas desencanem e façam suas críticas também externando seus pensamentos bons e seus lados negros. Peço apenas para que o façam de maneira sagaz, pois pelo que venho notando pelas ruas e vielas afora, é que cultura não é para todos.

E para que esse post não seja apenas enfadonho, deixo aqui um desenho do chargista Alpino, do Yahoo!, alguém que já errou feio, mas que agora traçou em cheio.


Para aqueles que desejarem obter mais informações sobre o caso e uma análise distinta da minha, podem ler a resenha escrita por Wesley Prado, no blog Caixa da Memória.