Faz três semanas que adquiri o sucesso mundial conhecido como Marley e Eu. Não sou adepto a não-ficções e gastei aproximados vinte reais torcendo o nariz. Numa manhã sonolenta de ida ao mal-fadado emprego, abri a edição e li, sem pretensões, as dez primeiras páginas.
O que posso dizer deste bestseller? A partir daquele dia, não pude deixar o livro de Grogan de lado.
Reconheço minha infinita paixão por animais, principalmente os cachorros, mas não esperava ficar tão atraído por uma história biográfica tão simplória quanto a do labrador Marley e seus donos. Mais uma vez parei para pensar na simplicidade das coisas, na decantação do essencial. E no quanto aquele "pior cão do mundo" havia me cativado, definitivamente!
No decorrer dos dias seguintes, enquanto tangia por uma suposta tensa demissão e os augúrios das noites mal-dormidas, descobri que a história dos Grogan estava para ser lançada nos cinemas, e mais uma vez torci o nariz. O óbvio me ocorria o tempo todo: adaptações da literatura para o cinema quase sempre dão errado. Histórias engraçadinhas de animais são sempre a mesma coisa. E outra vez cai de cara no batente! Não é que o meu mais apreciado crítico de cinema, Pablo Villaça, traçou ótimas linhas sobre o filme? Surpreendente! Uma comédia dramática de um livro biográfico sobre os amores e desavenças entre homens e animais poderia dar certo...
Então fui eu mesmo conferir após terminar de ler o livro (que me emocionou de um jeito indescrítivel), ao lado da minha namorada-noiva-esposa. Trailer vai, trailer vem, eis que Owen Wilson e Jennifer Aniston dão as caras. A trilha sonora é normal, de R.E.M. a The Verve, sem faltar Bob Marley, é claro; as cenas são realistas e cotidianas; os atores seguem de forma clara e direta; os cães que interpretam Marley agem conforme desejam diante das câmeras... enfim, tudo é muito simples e digno de méritos justamente por isso. Num cinema atual onde dramas filosóficos ou explosões holywoodianas são uma constante (mas não deixo de apreciar os dois gêneros), uma produção realista e tranquila consegue levar às famílias a história tocante de um cachorro infernal na conquista dos corações de seus donos. Mas, acima da história contada nas páginas e nos cinemas, o que realmente me deixou surpreso foi verificar a reação das pessoas que viam o filme: soluços, lágrimas e ternura. Ao meu lado, minha namorada precisou de um pacote de lenços. E eu não fiquei de fora. Quase não acreditei que na sala de exibição 99% dos telespectadores se deixaram emocionar com Marley! Fiquei perpelexo ao perceber que as pessoas ainda se deixavam levar pelo sentimento puro que o romance de John Grogan inspirava!
Mais tarde, pesquisei e descobri que, para minha felicidade, as duzentas e tantas almas naquela sessão não eram as únicas. Afinal, percebi que não fora o filme magistralmente conduzido ou o livro muito bem escrito que havia emocionado tantos ao redor do mundo. Apenas a vida e o amor de um animal qualquer ao lado de pessoas comuns provocara isso.
Para mim, foi bom saber que ainda existem pessoas que apreciam as coisas como elas são, até porque a amizade entre um homem e um animal só pode ser compreendida por aqueles que já tiveram esse prazer.