Crítica: O Lutador


Poderoso. Essa é a única palavra capaz de definir O Lutador, novo filme de Darren Aronofsky. Em pleno Carnaval (nem sei porque ainda escrevo com letra maiuscúla o nome dessa festa da insensatez) resolvemos minha namorada e eu passar um dia distante de toda a confusão e migramos às promoções dos cinemas. Queria assistir a O Curioso Caso de Benjamim Button, mas chegamos tarde demais para isso. Minha namorada já estava decidida a ver O Leitor e começamos por ele enquanto eu pensava a que sessão seguir após essa.

O filme de Daldry não me impressionou tanto quanto seu antecessor: As Horas. Esperava mais do drama de Kate Winslet (que por sinal, acho que não mereceu o Oscar de Melhor Atriz. Devia ter ido para a injustiçada Meryl Streep). Ele é lento, por muitas vezes chato e só tem algumas poucas passagens de brilhantismo. Digamos que histórias que brotam do holocausto já cansaram. Até que deixamos a sessão d'O Leitor e fomos comer alguma coisa.

Eis que decidi por assistir O Lutador e não tenho arrependimentos ou ressalvas a fazer a este filme brilhante. Quase documentário, a película narra a história de Randy, um pugilista falido, inclusive na vida, que se vê diante dos limiares que o conduzem para mais perto da solidão e da morte inevitável. E somos apresentados a Mickey Rourke, um ator que já cruzou os mesmos caminhos que seu personagem, e justamente por isso sabe como conduzi-lo de forma magistral sem nunca ser dramático ou espalhafatoso, como algumas das atuações que o Oscar gosta de presentear. Daí acredito também que, apesar de ser uma pessoa e um ator único, Sean Penn não merecia o prêmio da Academia, e sim Rourke. Ao outros do elenco, também só restam méritos. Marisa Tomei se arrisca num papel completamente expositivo onde poucas atrizes de seu porte e idade já enveredaram, e é excepcional. A jovem atriz (não sei o nome dela) que dá vida à filha de Randy também se mostra surpreendente, aparecendo como o grande conflito íntimo do lutador, e também seu principal inimigo no fim das contas. O que falar então das canções antigas do Guns 'N Roses que acompanham grandes momentos da vida de Randy?

Aronofsky surpreendeu em seu início de carreira e depois decaiu. Guns surpreendeu com suas músicas e a voz estridente de Axl e depois sumiu. Rourke começou uma carreira brilhante para em seguida afundar em seu próprio chiqueiro. Mas todos esses retornaram com este filme, tão pulsantes e tão geniais quanto eram há tempos.

O Lutador é um filme único, capaz de marcar aqueles que realmente puderem apreciar sua simplicidade, e que sejam capazes também de entender que um final nem sempre precisa ser sólido e escancarado. Basta ser seco e sutil como o corte de uma navalha.