Crítica: Acústico MTV Os Paralamas do Sucesso

Quando mais jovem fui salvo a tempo pelo rock. Enquanto o Brasil só pensava nas bundas das Sheilas e Carlas, por uma conjunção dos astros, fui apresentado aos clássicos Legião Urbana e Nirvana, as bandas de iniciação a qualquer um que atravesse essas fronteiras. Conheci Oasis também, mas entre clássicos e notas garregadas nada me cativou mais que Os Paralamas do Sucesso e seu Acústico MTV. Quase furei o disco de tanto ouvi-lo, fosse no decorrer dos dias livres ou na hora de dormir. O que me absorveu tanto só nos dias atuais vim a entender, quando revisitei o passado reavaliando esse jovem clássico da música.
"Este é um Acústico para os fãs e não para os vips que viram de costas e bebem cervejas", exclama Herbert Vianna no início do show. Composto pelas canções mais obscuras e desconhecidas da banda, o acústico traz marcas inesquecíveis, impossíveis de apagar. Carrega uma maturidade e uma limpidez que só uma banda com tantos anos de estrada poderia executar. À frente está Herbert com seus solos e sua voz incomum para as particularidades musicais. Bi Ribeiro lidera um conjunto tão harmônico que beira a perfeição, o limite, e João Barone, um dos melhores bateristas do Brasil, é indiscutível. Com a ilustre presença do sempre capaz Dado Villa-Lobos, Herbert se encontra na melhor das companhias. E trazendo uma gama de participações mais do que consolidadas, a apresentação é música para os ouvidos.

Por mais de uma hora conhecemos letras poderosas e melodias únicas criadas pelo lado compositor do vocalista, mas é com Fui Eu que somos inseridos nesse lado distinto dos Paralamas. "Há algo errado no paraíso. É muito mais que contradição. Sou eu caindo num precípicio. Você passando num avião". Navegando imprecisamente por canções como Um Amor, Um Lugar e Tendo à Lua, que começa magistral com o dedilhar de João Fera, se percebe que o céu da banda é muitas vezes mais belo que os de Ícaro e Galileu somados. Nas versões, não é diferente. Manguetown revela-se mais imponente que a original e Feira Moderna conduz a um ápice de incompreensão e nostalgia intangíveis. Em arranjos tão incomuns revisitamos Caleidoscópio e Meu Erro, que tornam-se simples e belas. O que dizer então de Brasília 5:31, Vai Valer e Uns Dias?

Por esses dias em que escutei atentamente o álbum, nada foi tão surpreendente quanto rever o passado de forma tão original. Se há um trabalho que merece adoração, é esse. Pelo menos para mim, já se tornou um clássico muito além de qualquer outro clássico moderno. É um mosiaco. Nas palavras do próprio Herbert Vianna: "É uma alegria sobrenatural!"

Se posso apontar uma única falha é a falta de Viernes 3 a.m., mas não se pode ter tudo na vida, não é mesmo?