Não pretendia lançar um novo post tão cedo, como podem afirmar meus leitores mais vorazes, e como pode ser verificado no post logo abaixo, mais diante de um lançamento fortuito, fiz necessário esse pequeno trabalho para publicar uma prévia do segundo capítulo de Se Acaso o Céu Cair - meu romance episodiado na Revista Pensamento. Aproveitando o encejo, atesto que estamos diante de mais uma pérola literária que é a própria Pensamento em sua quarta edição a partir do dia 30 de junho. Portanto, meus caros leitores, se faz mais que sagrado buscar a continuidade deste capítulo no conteúdo de uma das revistas que estará à venda nas livrarias Cultura, Saraiva e Imperatriz (a última sendo a do Shopping Recife), ou pelo e-mail livrescribas@yahoo.com.br. Conheça a Pensamento também pelo bloooog www.pensas.blogspot.com
Viernes 3 a.m. descia das nuvens! Tudo bem que David ouvira Charly Garcia durante a noite inteira, mas assumir que nesse dia ensolarado o roqueiro estivesse executando sua canção dos céus diretamente para seus ouvidos era pedir demais. E o carro? O maldito porsche insistia em não pegar! A essa altura, Tom já estaria puto, louco para esganá-lo até seu último suspiro, afinal haviam marcado às oito da manhã, e já era quase meio-dia. No acostamento de uma rua qualquer vendo os carros seguirem apressados David transpirava com o sol que descia sobre sua testa e já havia feito de tudo. O capô estava aberto e algumas peças desconhecidas do motor já tinham sido atiradas longe. Para piorar a situação, seu celular não pegava. Qualquer que fosse a entidade divina que residia lá em cima, definitivamente estava contra ele! Ou então era o próprio Charly quem mandava em tudo e desprezava David por tê-lo feito tocar durante toda a noite para um encontrozinho qualquer.
“Só pode ser isso!”, pensava o homem suarento que poucas vezes se deixava abalar com algo. Mas quem não se revolta quando o mundo inteiro conspira contra?
Quando estava disposto a desistir e mandar tudo à merda, o telefone vibrou no bolso de sua calça. Já aguardando pelo óbvio, pegou o aparelho e pressionou o botão de chamada, mas nada funcionou. As luzes coloridas do celular não estavam acesas e não havia ligação alguma, mas o aparelho insistia em vibrar na palma da sua mão.
- Que porra eu fumei? – se questionou.
- Nada, meu amor! Essa é a sua realidade, a sua vida. – disse uma voz feminina atrás dele. Ao se voltar disposto a reconhecer Cassandra e implorar-lhe por ajuda, David quase tropeçou em seus próprios pés ao ver Charly Garcia com sua guitarra numa das mãos, disposto a acalmá-lo e acariciá-lo com a outra.
- Volte para a cama comigo! – pedia o senhor tentando exibir uma sensualidade inimaginável.
Só quando sua cabeça parecia que ia explodir David despertou resfolegando. Estava em sua cama, suando devido aos raios de sol que entravam pelas brechas da cortina e esquentavam sua fronte. Ao seu lado, Cassandra ainda sonolenta acariciava-o. No criado-mudo o aparelho celular vibrava incessantemente. E da sala vinha a voz do agora temido cantor argentino.
Exceto o calor, a primeira coisa que David sentiu foi uma forte enxaqueca. Alguma mistura da noite anterior não tinha descido bem. Pegando o telefone, percebeu que Tom realmente estava puto. Havia várias chamadas do amigo no visor do aparelho, e era quase meio-dia. Praguejando contra sua própria imaginação, se pôs de pé num salto desequilibrado e caminhou até o banheiro. Ouviu a voz da garota em sua cama e sentiu asco. Jogou água gelada no rosto para acordar.
Nunca em sua vida David se aprontara tão rápido! Bastaram vinte minutos para que estivesse vestido, com a mala pronta e com qualquer coisa no estômago. No fim, se certificou de não esquecer apenas três coisas: seu maço de cigarros, o notebook e alguns cd’s. Fez cessar a música que se repetia no som da sala do apartamento e girou as chaves da porta. Antes de sair, gritou a Cassandra para que ficasse à vontade e partisse quando achasse conveniente. A garota no estado de semi-sono em que se encontrava não deu a mínima e voltou a dormir.