Diário transbordo: Enganar, ofuscar, ludibriar

Não tenho o emprego dos sonhos, assim como a maioria das pessoas, e reclamo do que tenho, assim como a maior parte também o faz. Será que é muita demagogia buscar objetivos crescentes em minha vida? Penso que não, e justamente por isso critico o que merece ser criticado.
Tudo bem, tudo bem... há coisas e pessoas que se salvam dentro da minha empresa, mas são situações e figuras bastante adversas no centro daquele mundinho egoísta e acirrado, temperado pelo capitalismo desenfreado. Não pretendo citar nomes, mas basta dizer que é uma empresa terceirizada de telemarketing, e meu setor se volta para um específico cartão de crédito, sendo mais exato.

De clientes insuportáveis à madrugadas preguiçosas, vou vivendo e seguindo sem cantar a canção... Não ainda! E sempre ouvi da boca de alguns camaradas russos que tudo já fora um pouco melhor. Ao menos antes havia festas e brindes dignos de relevância. Hoje, com a desculpa da crise mundial e bolsos cada vez mais fechados, não sobra nem a poeira dos velhos tempos que não pude contemplar. Pena! Ando pensando em forjar uma aliança de operadores-federação para insugirmos contra a bomba atômica do ocidente, o que não passa de devaneio, claro. O Fantástico Mundo de Bobby, talvez.

Mas o caso é que dia desses tive a prova que realmente precisava. Aquela que revela que a única intenção desses magnatas corporativos é ofuscar, enganar e ludibriar. Permita-me explicar como: pessoas de um outro setor tiveram que se submeter a uma prova (igualzinho aos tempos de colégio) na qual teriam seus conhecimentos trabalhistícos avaliados. Aqueles que se sairam bem receberam uma espécie de diploma de reconhecimento, diga-se de passagem, e um pequeno kit envolto em papel brilhante. Fiquei na expectativa de receber um prêmio de consolação, até saber o que tal kit continha e notar que saí melhor de mãos abanando. Meus caros leitores, o que redijo aqui é o texto integral de um papelzinho que acompanhava o brinde, descrevendo seu conteúdo e suas funções, um exemplo claro do cúmulo do absurdo e do óleo de peroba.
"Este kit é para acompanhar você
no seu dia-a-dia, nele encontrará o
indispensável.
Um elástico lembrando seu círculo de
amizades que pode ficar grande ou
pequeno, dependendo da sua capacidade
e desejo de relacionar-se com os
outros...

Um clips para juntar todos os
ensinamentos e expectativas positivas...

Uma borracha para apagar os mal
entendidos, ela representa o perdão, um
coração aberto sem preconceitos...

Ah!!! Ainda vai uma balinha para adoçar
a sua vida e a do próximo!

Bom trabalho!"

Deixei os erros gramaticais e ortográficos propositalmente no texto para revelar ainda mais a falta de apuro na preparação de tão adorável kit. Após ler isso aí em cima, quase briguei com um dos colegas de trabalho por um desses brindes fantásticos.

Mas, tudo bem, nem tudo são lágrimas... Conheço uma pessoa que ficaria radiante com esse kit: o nosso eterno MacGyver. Com um elástico, um doce, uma borracha e um clipe, ele construiria uma bomba em dez segundos.

Adendo: Assim que publiquei esse post, meu caro xará lá de São Paulo fez questão de me brindar com um comentário pertinente e absolutamente hilário. Não pude perder a oportunidade de repassar tal comentário ao próprio corpo do post.

"Parece até mentira. Dei bastante risada aqui. Com um brinde desses quem é que vai se sentir capacitado para o dia-a-dia no ambiente de trabalho? Eu diria que a intenção é boa, mas os resultados podem ser desastrosos. Com o elástico eu iria "pausar" a circulação sangüínea do meu chefe, colocando-o em seu pescoço; com o clipe eu furaria seus dois olhos; e por último, chuparia a bala, mas só por presunção."