Alguns perdem a vida em mil tentativas vãs de marcar seu nome na história. Outros, com apenas um passo, que não precisa ser fácil ou simples, conseguem trazer ao mundo algo para a eternidade. É o caso de J. D. Salinger, escritor recluso e misterioso, que com uma só obra consquistou milhões e não marcou apenas a história literária, mas inúmeros veios da humanidade.
Cá estou eu, humilde blogueiro e escritor em constante frustração, falando de uma figura que pouco conheço... Me perguntem qual o significado das iniciais J. D., ou onde viveu e o que fez do resto de sua vida esse tal de Salinger. Não vou saber responder! Mas como tem sido uma constante no Caio em Coluna, não tenho me atido a detalhes biográficos, até porque estes tendem a ser chatos, pois o que vale mesmo é o que foi feito com a imensa criatividade humana quando direcionada para algo realmente produtivo e bom. Sendo assim, não vim com essa postagem narrar fatos da vida do escritor, mas sim falar de sua obra, a criação de sua vida.
Sabia, há anos, da aura que cercava O Apanhador no Campo de Centeio. Todas as suas lendas, mitos e fatos. Histórias sobre alguns dos maiores assassinos de nossa cronologia, que carregavam o livro debaixo dos braços como uma bíblia; contos de gente que colecionava edições e mais edições d'O Apanhador, e todos esses boatos que fazem uma narrativa crescer além de sua própria história.
Quando, enfim, consegui meu primeiro trabalho decente, e dinheiro suficiente para angariar alguns dos objetos de desejo, não tardei em adquirir uma edição do livro de Salinger. Qual foi minha surpresa, ao terminar de lê-lo, em perceber que a história que J. D. construira era tão grande, ou até maior que todos as lendas ao redor da obra. O Apanhador no Campo de Centeio não era apenas uma história moderna e pulsante, mas uma viagem metafísica que ia muito além da compreensão deste débil leitor/escritor que vos fala. Para muitas das nossas mentezinhas atrofiadas dos dias de hoje que acham que cultura é a nova música da banda Calypso, um livro sem final conclusivo e com um contexto intrincado e, por vezes, até surreal, realmente soa como algo perturbador e sem sentido. Mas para qualquer um de nós que temos o hábito de ler e engrandecer nossos conhecimentos, O Apanhador torna-se nada menos que uma das grandes obras artísticas da humanidade, e J. D. Salinger, a mente por trás do mito, um ícone e uma inspiração para iniciantes como nós.
Trago à tona minhas perspectivas sobre o livro nesse momento, pois nessa semana, Salinger nos deixou. Morreu em reclusão, assim como passou sua vida, e se entregou a algum lugar nesses imensos campos de centeio do pós-vida.
Assim como Tolkien, Kafka, e até nossa Clarice, Salinger é um daqueles que merecia a benção da vida eterna, para nos brindar sempre e sempre com criações fantásticas como O Apanhador no Campo de Centeio.