Gênios da arte: Irlandeses















Tudo começou quando conheci a singularidade musical de Damien Rice. Bastaram alguns acordes para que eu percebesse que estava diante de uma relíquia que poderia render cada vez mais bons frutos, e como estava certo.

Quando adquiri o álbum O, o debut de Damien Rice, já conhecia sua canção principal intitulada The Blower's Daugther que a essa altura havia sido maculada pelas trilhas sonoras das novelas nacionais e pela versão pífia de Seu Jorge e Ana Carolina. Porém o compositor não perdeu o brilho diante disso. À medida que explorava o choroso e apaixonante CD, faixa após faixa, percebia que toda aquela elegância cristalina não podia ser algo banal, algo tão simples quanto qualquer rock 'n' roll norte-americano. E descobri, não para a minha surpresa, que Rice era irlandês, bem como suas inspirações. Em pouco tempo me dei conta de sua parceria feminina chamada Lisa Hannigan que, juntamente com Damien, formava a combinação perfeita entre o ríspido e o macio, a tristeza e a esperança.

Entre o primeiro e o segundo disco dele, conheci a loucura psicodélica e não menos singular da banda Sigur Ros. Ora, eles eram irlandeses também! Com letras cantadas na língua nativa do país, as composições mergulhavam fundo num mundo fantástico e obscuro, e bem diferentes de Damien e Lisa, que utilizam principalmente suas vozes, Sigur Ros partia para o lado mais instrumental.


Foi recentemente, então, que descobri a trilha sonora do filme Once (Apenas Uma Vez, na tradução), conduzida por outra dupla: Glen Hansard e Markéta Irglová. Ainda tenho minhas dúvidas sobre a realidade, mas posso jurar que os dois são irlandeses e apresentam canções não menos belas que as de Damien Rice e Lisa Hannigan. Infelizmente ainda não pude apreciar o filme, mas se este mantiver toda essa aura féerica das músicas que os compositores deste país vêm apresentando, terei prazer em assisti-lo muitas e muitas vezes.

Claramente, bastavam tais trabalhos para notar que já tinha me declarado amante da música irlandesa, que é claro, tivera seu início nos confins dos anos anteriores com U2, pelo menos para mim. E quando já me dava por satisfeito, fui jogado num constraste de emoções ao saber que Lisa e Damien tinham se separado, nos dois relacionamentos, e ela criara um álbum só para si, o Sea Sew, e mesmo sozinha, detinha a capacidade de compor as mesmas músicas dos ventos, pradarias e oceanos gelados. Com esse rompimento, não sei que fim teve Rice, pois não lançou mais nada em dois ou três anos. Fico me perguntando se a separação foi tão drástica ao ponto de ele entrar numa crise de composição... e não seria surpreendente se fosse mesmo isso, já que em todos os seus cds ele sempre revelou um amor tão singular por Lisa quanto são as suas músicas.

Ainda almejo descobrir outras bandas, duplas ou compositores nessa mesma linha, mas enquanto não, faço visitas regulares à Irlanda, esse portal para um mundo à parte, através destes filhos do vento.
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Adendo: cinco horas após a confecção dessa postagem, soube que Glen Hansard faz parte de uma banda chamada The Frames, e sim, ele é irlandês.