Prosa e pensamento: Afluentes poluídos


Se você conhece bem nomes como Augusto Cury, Zíbia Gasparetto, James Hunter e Spencer Johnson, certamente tem um problema. E tendo problemas, certamente recorreu a esses autores e seus pergaminhos "fabulosos" para resolve-los. Não precisa ser muito inteligente para notar que nessa situação já se formou um ciclo vicioso e você está fadado a permanecer nele.

Bem, Caio, sobre o que estás divagando aí?, me pergunta o caro leitor.

Respondo: Ora! Nada mais que uma crítica aos livros de auto-ajuda, mas vamos do começo.

Nunca compreendi muito bem esse termo "auto-ajuda". Se você recorre a um livro escrito por outrem para tentar encontrar a Super Bonder para seus problemas está, obviamente, contando com o apoio de alguém mais para tanto, então por que diabos intitular de auto-ajuda?

Pesquisei recentemente no Google, esse nosso amigo que um dia chegará ao patamar de HAL 9000, e fiquei abismado com a quantidade de árvores cortadas para que as pessoas, pobres de intelecto e débeis em personalidade, possam encontrar o caminho da felicidade ou da perfeição. As listas dos mais vendidos são inúmeras, infindas, onde alguns desses nomes citados no início do post se repetem com frequência. É absurdo perceber que muitas dessas pseudo-obras encabeçam colocações que se sobrepõem a livros verdadeiros, histórias, romances, poesias - enfim, coisas que deram trabalho para serem criadas e que são a literatura de verdade para a qual deveríamos nos voltar.

"Quem mexeu no meu queijo?", "O monge e o executivo", "Seu balde está cheio?", "Quem me roubou de mim?", "Praticando o poder do agora", "Como conquistar pessoas", "12 semanas para mudar uma vida" são só alguns dos títulos, e mais uma vez, se tiveres perspicácia, caro leitor, bastarão eles para que capte o recheio desses pães.

Para mim, o mais frustrante de todos é "Como passar em concursos públicos". Por que? Abandonei meu emprego, passei cinco meses enfurnado em casa e debruçado sobre livros, abdiquei de minha vida social por esse período e passei num concurso público, porém descobri que precisava disso tudo não porque um tal de William Douglas me falou, mas simplesmente porque tenho vontade própria, capacidade crítica e argumentativa e uma mente desenvolta para raciocinar, habilidades estas que devo em parte ao meu vício por uma leitura saudável, limpa, que não polua os afluentes do meu cérebro. Ademais, imaginem se tivesse gasto esses meses lendo a publicação do senhor William Douglas e não estudando. Você realmente acha, caro leitor, que conseguiria passar se fizesse isso? Se pensas assim, por favor, digite simultaneamente as teclas ALT e F4.

Até hoje não esqueço do desejo de um amigo meu em escrever um livro de auto-ajuda sobre como passar em concursos públicos. Disse-me ele que seu livro teria 600 páginas. As 299 primeiras viriam em branco, bem como as 299 últimas. As duas do meio restantes teriam escrito em letras garrafais a palavra ESTUDE. Precisa de mais?

Acorde, se ainda não virou um zumbi da modernidade, e perceba que só você pode fazer as coisas que deseja. Pare de gastar seu dinheiro com livros sobre como abrir seu próprio negócio e economize para tanto. Quer uma nova namorada? Feche esse maldito livro e saia de casa. Deseja ter sucesso na vida capitalista? Estude e trabalhe. Mas se realmente acredita que alguém mexeu no seu queijo, nada mais posso fazer por você.