Quase nunca nos damos conta que o tempo corre ao nosso redor. Não falo da pressa rotineira ou dos ponteiros do relógio que nos impulsionam contra a violenta maré do dia-a-dia, mas sim das horas, meses e anos que fluem por nós e nem sequer os sentimos. Só quando o passado bate à porta é que floresce o questionamento inevitável sobre as trilhas que escolhemos enquanto caminhamos vendados rumo ao vão do nada.
Não que nossas escolhas necessariamente nos conduzam a lugar nenhum. Apenas não nos perguntamos aonde vamos enquanto seguimos em frente, ou tortos.
Tão estranha quanto a sensação de olhar para trás é se atirar na frente de um automóvel em movimento, de um trem descarrilado ou de uma paixão arrebatadora e encarar nada mais que mudanças. Notar que, do nada, quando menos desejamos tudo o que nos envolve dá uma guinada, mas ao contrário do que fazíamos até então, essas retomadas de rumo são por nossa própria vontade, para nosso contento, desprezo ou o que quer que seja.
Rever um velho amigo, uma ex-namorada, passar por um lugar outrora precioso e hoje esquecido, ler uma frase antiga escrita por um punho indócil - tudo ou qualquer coisa é capaz de nos jogar nesse leito caudaloso que nos põe em contradições constantes, em ambições impossíveis, me causas intangíveis.
Como lidar com esse paradigma vital? Ou melhor, como decifrá-lo? Achar a solução enquanto a correnteza nos conduz não é das tarefas mais rotineiras para um ser humano e uma mente mundana. Qual a resposta, então? Sinceramente, não sei. Por enqanto, após ser tomado pelo curso das águas, apenas me deixo conduzir sabendo bem que não é a melhor solução para a questão, mas a única que fui capaz de obter.
O que o tempo agora fora de controle reserva para nós é pura especulação. Pena é ter que arrastar outros para um caos que não os pertence. Mas para tudo há consequências e apenas uma causa.