Prosa e pensamento: Cabelos brancos


Há tempos venho sendo entorpecido por um sentimento incomum. Há tempos desejo, até mesmo angustiado, algo de volta. Cada vez mais salto para dentro da realidade banal e isso me aflige. À medida que, trôpego, enfio-me num mundo obtuso e monocromático, sou obliterado por essa visão borrada de um lugar que não é meu. Ou melhor, eu que não sou daqui.

Quando encontrei a simplória ideia da comunidade orkutiana intitulada "Cansei desse planeta" que tinha como preâmbulo aproximado o seguinte: "Mãe! Pai! Venham me buscar. Cansei desse planeta!", fui tomado por essa incomum vontade de adentrar numa nave estacionada em um platô qualquer e me mandar daqui levando pouco, muito pouco. Em preciosos e variados momentos, quando ainda não me entendia por gente, recebia ondas e mais ondas do imaginário, do mundo fantástico que ficava logo ali, dobrando a esquina. Já agora, com vários cabelos brancos e acessos temporais, sinto que minha conexão, meu cordão de prata que atravessa o etéreo e atinge o outro lado está se desgastando e, a qualquer momento, pode se romper.

Então, há tempos não conseguia mais desmontar o quebra-cabeça, desarticular-me das solidezes do caos real, e há tempos não conseguia encontrar definição para esse sentimento de perda e essa vontade incauta de tentar transformar, mudar o que estava ali tão bem catalogado, até que, me entregando mais uma vez a esse padrão voraz, com uma pontinha de asco, diga-se de passagem, findei minha busca pela definição verbal de meus sentimentos. No twitter, a ferramenta do diminutivo, a castração do imagético, achei a frase que me levou aos meus anseios. Foi escrita por um amigo, e traduziu a tudo. Pena que não tenha trazido com sua clareza, a solução...

"Gostaria de poder ajudar a reencantar a realidade."
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