Há muito já tinha assistido à loucura aquática do diretor Wes Anderson intitulada A Vida Marinha com Steve Zissou. A princípio o filme causa estranheza. Ver todos aqueles personagens e comportamentos que parecem ter saltado da mente de um lunático não é algo fácil de se digerir. E são muitos os que não compreendem sua temática.
O mesmo ocorre com seu filme-ícone anterior, Os Excêntricos Tenenbaums, indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original. Como toda gênese de Anderson, a premissa é simples: um pai que sempre viveu afastado da família, começa a sentir falta do que nunca teve no fim de sua vida e, através de ideias mirabolantes, tenta se unir a todos para aproveitar aqueles momentos esquecidos. Até aí teríamos um simples filme de comédia ou um drama clichê, não estivesse por trás de toda a criação esse diretor chamado Wes Anderson.
A grande sacada do criador brota em seus personagens, figuras incomuns, excêntricas, que nunca esperaríamos ver andando por aí. Ao ver os Tenenbaums apenas recentemente, pude atribuir semelhanças entre as duas obras (e creio que Viagem à Darjeeling, película mais recente que ainda não assisti, recaia nessa mesma louca abstração) e entender aquilo que só alguns conseguem. Anderson simplesmente exterioriza em seus personagens aqueles sentimentos e comportamentos mais absurdos, que todos têm, mas que permanecem adormecidos ou em segredo aos olhos da sociedade. Em vez de fazer isso de forma usual, dando pinceladas aqui e ali sobre como tal e tal persona é ou deixa de ser, o diretor leva aos extremos tudo o que há de pior e melhor em cada figura por ele criada, e por isso é tão estranho e ao mesmo tempo tão divertido.
Assistir a Os Excêntricos Tenenbaums ou A Vida Marinha é como viajar naquelas sessões de psicanálise e ser o Freud capaz de enxergar os mínimos detalhes dos traços comportamentais de cada ser ali presente. Assim, com histórias minimalistas e interpretações únicas, Anderson conquista seu espaço numa prateleira seleta da história do cinema: aquela capaz de armazenar produções realmente originais e singulares.
Agora anseio por assistir Viagem à Darjeeling e O Fantástico Sr. Raposo, animação aclamada por toda a crítica das telonas. E deixo a dica para que os cinéfilos de plantão procurem a cereja do bolo de Anderson, essa viagem anárquica chamada Os Excêntricos Tenenbaums.
.