Diário Transbordo: Palavras e sentidos


Num dia normal de trabalho conversava com Josimar. Acabamos chegando a um assunto que mesmo não parecendo, costuma nos afetar mais que imaginamos. Abaixo, reproduzo o nosso diálogo:

Caio: Parece que tem gente que faz questão de não entender nada!

Josimar: É... isso acontece bastante. A gente tá ali falando, achando que tá fazendo um discurso da porra e, no final, percebe que só perdeu tempo, porque a pessoa entendeu completamente o oposto do que você disse.

Caio: Realmente! Parece que você fez tudo errado.

Josimar: Pior ainda. Você fica se perguntando se tá louco, se bateu a cabeça e falou o que não devia, porque ou a pessoa que tá te ouvindo é tapada, ou você virou esquizofrênico e tá sem a noção do que diz!

Pensando nisso melhor, percebia quão difícil era o entendimento entre as pessoas que, mesmo falando do mesmo assunto, nos mesmos termos, insistiam em não compreenderem um ao outro, como se o lugar-comum fosse algo tão distante quanto as palavras mal-interpretadas naquela situação. Quantas vezes já me vi no momento absurdo de pensar comigo mesmo que tinha total certeza das informações proferidas para um terceiro, mas que na cabeça dele não se achavam daquela forma.

Quando se é prolixo demais, há o problema de não se fazer entender, porém quando se tenta ser objetivo, parece que tudo se complica ainda mais e a simplicidade não é tão branca assim para o ouvinte. Fiquei me perguntando quanto tempo levaria para que as pessoas percebessem que as contendas das quais fazem parte são tão sem sentido quanto os argumentos que defendem em um mesmo raciocínio?

Isso Josimar não pode responder, enquanto se entretinha abrindo suas contas que tinham acabado de chegar. Mas olhou para mim com a cara mais lavada do mundo e mostrou o cartão que recebera das lojas Marisa. Em seguida, voltou-se para a carta que acompanhava o cartão em seu nome e leu: "Cartão Marisa para você, mulher!"

Apesar de toda seriedade do assunto de segundos atrás, não tive como não cair na gargalhada.