Crítica: Zé Colmeia - O Filme


Há quem pense que despretensão é algo ruim. Se imaginarmos as obras que necessitam de um roteiro apurado, de uma produção caprichada e de interpretações dignas de lágrimas, realmente a despretensão não funciona. Mas e se você quisesse apenas produzir um filme com ares de desenho animado dos anos 80, com todas aquelas características bobinhas que te fazem rir através da comédia pastelão? Ser pretensioso nesses casos seria apenas um desrespeito com a alma infantil que impera nesse tipo de animação.

Pensando exatamente nisso, chegou aos cinemas esse final de semana Zé Colmeia - O Filme, evidentemente inspirado no desenho homônimo. Ao contrário de tantos filmes recentes inspirados em quadrinhos, videogames e outros desenhos, que simplesmente fogem do conteúdo original, esse Zé Colmeia é a cópia fiel do desenho que divertia crianças naquela década. Como eu era uma delas, lembro muito bem que tais produções não precisavam apelar para a pirotecnia, a violência e a malícia para serem divertidas. Elas eram simples, apenas, e foi justamente quando tal característica começou a se perder que a infância inocente foi por água abaixo. Hoje temos jogos com sangue e violência, sexo 24 horas na internet e crianças e adolescentes enfurnados em seus notebooks vivendo solitariamente, alheios às perspectivas que ser jovem pode oferecer. O descomprometimento, as brincadeiras sociais e o poder da imaginação se perderam.


É por esse e outros motivos que faço questão de traçar elogios descomprometidos ao filme que acabei de ver. Carregado de piadas com tombos, tortas na cara e dancinhas engraçadas, com personagens simples, inocentes e crentes no amor, com toda a alma infantil e ainda com um espacinho para o politicamente correto em prol da natureza, Zé Colmeia - O Filme é tudo o que precisa ser: um desenho animado convertido em filme.

Seus dois personagens principais são cativantes. Zé Colmeia e seu inseparável companheiro, Catatau, passam o dia criando planos para capturar as cestas de comida dos visitantes do Parque Jellystone. As personas humanas do filme são tão abobalhadas e infantis quanto os ursos que dão o rumo das coisas. Ainda temos tempo para nos divertir com uma tartaruguinha simpática que consegue demonstrar todas as suas emoções pelos olhos sem dizer uma palavra. Lutando contra o arquétipo de vilão desse tipo de produção, o prefeito malvado que deseja transformar o parque em lucro, mergulhamos numa aventura que abusa do 3D clichê de jogar coisas na tela. E qualquer criança adora isso! Eles (e me incluo nessa) não querem saber de técnicas avançadas e detalhistas. Estão lá para se divertiram e levantarem suas mãozinhas tentando pegar o que salta aos olhos. Para que mais que isso?

Zé Colmeia - O Filme é desde já recomendado para todos aqueles que ainda possuem uma centelha de criança dentro de si, e para os infantes que ainda tem a perspicácia de aproveitarem essa época. Se você é um destes, bom divertimento! Ou então vá se enfiar na tela de um computador e atirar em terroristas...

Viva os desenhos animados de antigamente!