Especial Oscar 2011: Os indicados a Melhor Filme


Enfim concluí a odisseia de assistir aos dez filmes indicados para a categoria Melhor Filme do Oscar 2011, mas tenho que admitir que, apesar de um pouco desgastante, o trabalho foi recompensador e tive gratas surpresas. Esse foi o primeiro ano de Oscar em que me dispur a ver todos os concorrentes, até porque pouco tempo atrás tinha aquela visão comum que obra indicada é obra chata, o que não deixa de ser verdade em alguns casos. Porém esse ano, o nível é elevado e os filmes são fantásticos, e quanto a isso, não restam dúvidas. Então, cá estou para traçar as críticas, perfis, categorias as quais concorrem e chances reais dessas dez produções principais. Por isso se preparem psicologicamente, pois prevejo um post absurdamente longo.

Antes da análise, deixo apenas algumas observações: 1. Colocarei os filmes em ordem alfabética, ignorando os artigos, a fim de evitar preferências; 2. Minhas críticas não tendem muito para o lado técnico, que conheço pouco, mas sim sobre a experiência que é para o espectador. Ainda assim, tentarei analisá-los pelos dois lados; 3. Após as críticas, deixarei a listagem dos votos do Cinema em Coluna, a brincadeira feita no blog onde o leitor votaria nos seus preferidos, e junto a ele deixarei os meus votos como crítico e amante do cinema.
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Então, vamos à postagem porque a estrada é longa.
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Indicações:
Melhor Filme
Melhor Ator (Jeff Bridges)
Melhor Diretor (Joel e Ethan Coen)
Melhor Atriz Coadjuvante (Hailee Steinfeld)
Melhor Roteiro Adaptado
Melhor Direção de Arte
Melhor Fotografia
Melhor Figurino
Melhor Edição de Som
Melhor Mixagem de Som
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Bravura Indômita é o tipo de filme do qual sinto falta nos últimos tempos. O gênero western decaiu bastante com o passar dos anos e não é tão mais atrativo para o público assim. Por quê? Tendência, penso eu. Apenas estamos numa época onde "filmes de macho" perdem espaço para calças coloridas. De qualquer forma, junto com o recente Os Indomáveis, essa obra prova que sua vertente pode ser fantástica e render boas histórias.

Adaptado pelos irmãos Joel e Ethan Coen (de Onde os Fracos Não Têm Vez) do filme homônimo de 1969, a película narra a história da pequena Mattie (Hailee Steinfeld) que, ao perder o pai, assassinada pelo bandido Tom Chaney (Josh Brolin), decide buscar vingança e contrata um caçador de recompensar chamado Cogburn (Bridges) para matá-lo. Ao mesmo tempo, Chaney é também perseguido pelo Texas Ranger LaBoeuf (Matt Damon), que cruza o caminho de Mattie e Cogburn vez por outra.
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Como é costume dos irmãos Coen, em filmes mais sérios, tudo é mostrado de forma brutal e nesse Bravura Indômita não é diferente. A garota de 14 anos se desenvolve de maneira adulta para poder sobreviver num mundo cruel e seco e nada mais explícito que isso do que quando ela presencia um enforcamento e lida com um vendedor de cavalos logo nos minutos iniciais da projeção. É justamente em Mattie que reside um dos pontos fortes do filme, já que a jovem atriz Steinfeld a encarna da forma que uma menina na sua idade e situação precisaria ser. Ela é sagaz e intimidadora. Já Bridges faz de Cogburn um federal capaz, mas que se entrega à bebida e a costumes rústicos. Bem diferente do seu eterno Lebowski, que vez por outra se reflete em outras de suas atuações, nesse papel ele encarna um tipo arcaico, de voz rouca e linguagem incompreensível. Matt Damon, com o seu LaBoeuf, me lembrou um pouco do seu papel em O Desinformante, mas nem por isso brilhou menos. De começo temos a plena certeza que aquele Texas Ranger é apenas um covarde em busca de dinheiro, mas à medida que o filme avança, ele se transforma de maneira magistral e até passamos a torcer pela sua vitória. Mas é em Josh Brolin que está uma das atuações mais surpreendentes da película, pois ele cria um personagem, o desenvolve e nos revela que não era o que parecia, tendo apenas os minutos finais da fita ao seu favor.
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Eis um ponto em que os irmãos Coen conseguem sempre ser eficientes: o desenvolvimento de seus atores e personagens. Mesmo que estejamos diante de um filme menor, pelo menos teremos sempre a certeza que, ao ver uma de suas criações, haverá personas que valerão o ingresso. Sendo assim, nada mais justa que a indicação de Bridges e Steinfeld ao Oscar, porém, as chances dos dois levarem as estatuetas para casa são pequenas. Primeiro, porque Bridges concorre com Colin Firth (O Discurso do Rei) e esse deve mesmo ser o ano de Firth, a não ser que alguma coisa saia dos trilhos, e em segundo, pelo fato de na categoria da garota, Melhor Atriz Coadjuvante, estar também Melissa Leo (O Vencedor). Porém, mesmo Melissa sendo a favorita, a Academia pode surpreender e entregar o Oscar a Hailee Steinfeld, que nessa questão, teria mais chances que o próprio Jeff Bridges. Outro aspecto importante ao qual o filme concorre é o de Melhor Direção para Joel e Ethan Coen. Eles podem até levar, afinal a categoria está disputada, mas é algo que duvido, já que foram premiados recentemente por Onde os Fracos Não Têm Vez e o Oscar não tem costume de entregar prêmios tão próximos assim.

Dessa maneira, é nos quesitos técnicos que residem as maiores chances de Bravura Indômita, principalmente na Fotografia de Roger Deakins, que concorre com o igualmente forte Matthew Libatique, de Cisne Negro. Analisando pelo filme, realmente Deakins faz um trabalho impecável ao retratar toda a atmosfera do Velho Oeste e nos transportar para aquele mundo sombrio e árido, juntamente com a equipe de Direção de Arte.
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Bravura Indômita resgata o western de maneira única e, realmente, merece estar entre os melhores, principalmente pelo seu tenso e inesquecível terceiro ato. Só não é completamente perfeito devido alguns momentos de monotonia que nos desprendem da história narrada em alguns momentos, mas isso é um problema mínimo.
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Indicações:
Melhor Filme
Melhor Ator (James Franco)
Melhor Roteiro Adaptado
Melhor Montagem
Melhor Trilha Sonora Original
Melhor Canção Original (If I Rise)
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Não vi, ainda, Quem Quer Ser um Milionário?, então vou evitar traçar qualquer tipo de comparação, até porque não julgo necessário, já que 127 Horas fala por si só.

Dirigido por Danny Boyle, o filme narra a história real do aventureiro Aron Ralston que decide explorar um local distante, o Blue John Canyon, em Utah, e acaba tendo seu braço preso por uma pedra de meia tonelada devido a um acidente. Ali, ele sobrevive por cinco dias até que decide tomar a drástica, porém única, medida que o permitiria sair vivo: cortar seu próprio braço.

Ao contrário de Enterrado Vivo, que também nos revela uma história que se passa quase que completamente num único lugar com um único ator, 127 Horas faz o mesmo de maneira bem mais eficiente. Se no outro temos uma história que às vezes tende para o clichê ou o exagero, neste tudo é mais bem dosado e explorado. Por sinal, é James Franco que carrega todo o filme nas costas, já que incorpora perfeitamente toda a situação pela qual passa sem nos permitir duvidar que ele realmente está ali. Entregando-se à interpretação da sua vida, até então, o ator passa pelas mesmas dúvidas, quationamentos e problemas que o Ralston real passou de maneira sublime. Seria, se não fosse por Bridges, Firth e por sua idade, o grande concorrente a Melhor Ator e levaria o prêmio para casa sem nenhum injustiça.

Discutindo agora aquilo que alguns acham ser o problema da obra, a investida nas alucinações de Ralston enquanto permanece preso, estou aqui para discordar. O argumento utilizado é de que a ida de Danny Boyle para o lado metafísico e psicológico nesses momentos, quebra a tensão que a película cria em torno do martírio do explorador. Porém, analisando em termos reais, não foi mesmo por tudo isso que Aron passou? A desidratação e o desespero não o levaram a sonhar e a falar sozinho em vários instantes? Então, por que não retratar tais acontecimentos? Apesar de expositivo, por que criticar o talk-show xriado pelo explorador num momento de delírio e desabafo? Acredito que Boyle foi perfeito nessa adaptação e penso ser até meio injusto ele não estar entre os diretores indicados, tal qual ocorreu com Christopher Nolan.

Assim, 127 Horas deve mesmo sair de mãos abanando, exceto talvez por Melhor Montagem, impressionante nas cenas que conectam a prisão de Aron Ralston ao mundo externo, bem como a realidade aos seus devaneios, e por Melhor Canção, If I Rise, de Dido, que tem o tom certo para a categoria. Se bem que, levando em consideração a vitória de Monstros SA alguns anos atrás na categoria, é capaz mesmo de 127 Horas ir para casa sem nada. Independente dos prêmios que conquistar o filme vale à pena em todos os aspectos.

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Indicações:
Melhor Filme
Melhor Atriz (Natalie Portman)
Melhor Diretor (Darren Aronofsky)
Melhor Fotografia
Melhor Montagem
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Opressivo. É isto que Cisne Negro é: um filme opressivo. Pelo menos para quem foi capaz de se envolver com a história da bailarina Nina, interpretada por Natalie Portman.

A obra conta como Nina, uma bailarina que por anos aguarda sua oportunidade de se tornar a peça central de uma das apresentações do grupo, acaba tendo sua vez quando Beth (Winona Ryder) se aposenta de forma compulsória. Recebendo o papel principal do balé O Lago dos Cisnes, Nina precisa se revezar em duas atuações, a do Cisne Branco e a do Negro. Porém é na segunda adaptação que seus problemas começam a surgir, pois sendo recatada e tecnicamente perfeita, a jovem parece incapaz de incorporar o personagem sensual que seu diretor, Leroy (Vicent Cassel, no papel que lhe caiu como uma luva) deseja. Sofrendo também a pressão velada de sua mãe (Barbara Hershey), uma dançarina aposentada, e da ameaça crescente de uma nova integrante do grupo, Lily (Mila Kunis), Nina acaba entrando numa espécie de espiral psicótica que a faz chegar mais próxima do seu papel e se afastar da realidade.
Quando digo que o filme é opressivo, é porque em nenhum instante conseguimos relaxar ao assisti-lo, justamente porque a personagem que acompanhamos parece viver numa constante tortura para ser a melhor e atingir o ápice. Acompanhar Nina em seu mergulho psicológico é tão desgastante e sombrio que, ao final, nos sentimos aliviados quando nos libertamos de toda a escuridão que a película traz ao transpor uma "Nina Cisne Branco" para uma que gradualmente se metamorfoseia no Cisne Negro.

Não resta dúvida que, com uma interpretação chorosa, sofredora, psicológica e amarga, esse é o ano da atriz Natalie Portman, portanto, nem vou me aprofundar na questão. A pergunta que paira aqui é: seria esse o momento do diretor Darren Aronofsky? O cineasta, de carreira impecável (isso me lembra Nolan), e com isso conto também com o subestimado A Fonte da Vida, terá finalmente a chance de receber o Oscar por tudo que fez até agora, incluindo seu belíssimo Cisne Negro? Ou a Academia surpreendera premiando um desconhecido, como Tom Hooper ou David O. Russel? Ainda há a concorrência de David Fincher, outro diretor fantástico, e isso poderia sim ser uma barreira entre Aronofsky e seu tão sonhado Oscar.

De toda forma, há duas categorias que se enquandram perfeitamente como grandes chances para Cisne Negro. A de Melhor Fotografia, de Matthew Libatique, que já comentei na crítica de Bravura Indômita, mas que realmente impressiona ao trabalhar com os jogos de luzes e os tons de preto e branco, e a de Melhor Montagem, que captura perfeitamente as passagens entre os sonhos e a realidade de Nina, bem como as mudanças ocorridas no palco, nas conversões entre os cisnes Branco e Negro. E quando digo que faz isso de forma perfeita, é justamente por ocorrer sutilmente, já que em vários instantes nos questionamos se o que estamos vendo é alucinação ou palpável aos olhos da personagem.

Cisne Negro é mais uma grande realização de Aronofsky e peca apenas por alguns excessos de Portman e por algumas impossibilidades, mas que se tornam irrelevantes diante do espetáculo.
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Indicações:
Melhor Filme
Melhor Ator (Colin Firth)
Melhor Diretor (Tom Hooper)
Melhor Ator Coadjuvante (Geoffrey Rush)
Melhor Atriz Coadjuvante (Helena Bonham Carter)
Melhor Roteiro Original
Melhor Direção de Arte
Melhor Fotografia
Melhor Montagem
Melhor Trilha Sonora Original
Melhor Figurino
Melhor Mixagem de Som
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O maior indicado ao Oscar 2011 me surpreendeu. Como afirmei no começo dessa postagem, filmes que possuem essa temática e são tão indicados assim, tendem a ser chatos. Ainda bem que isso tem mudado, e O Discurso do Rei faz parte dessa mudança. É uma obra tocante, bem conduzida, que narra uma história incrível, apesar de minimalista. Traz toda uma produção, elenco e direção afiadíssimos.

A película acompanha o momento de transição na vida do Duque de York, que passará a futuro Rei George VI, num momento em que a comunicação entre monarcas e súditos crescia através de comunicações de rádio, e que os discursos proclamados por aqueles que eram reis tinha suma importância nas vidas dos ingleses. Com as constantes mudanças ocorrendo no trono, o futuro rei vai gradualmente percebendo que terá que ocupar aquela posição, mas convive com um problema que poderá por sua popularidade abaixo: a gagueira. Afinal, como ter um rei que fala para o povo e pelo povo se este não consegue expressar uma frase inteira com convicção?

O filme poderia ter se convertido numa história tola, afinal narra costumes de um país distante numa época a qual não estamos adaptados, mas justamente por ser também um conto de superação, O Discurso do Rei acaba sendo um filme capaz de mexer com nossos âmagos.

Colin Firth não é o favorito a Melhor Ator à toa. Claro que Jeff Bridges e James Franco estão soberbos, mas Firth, com seu George VI, leva sua interpretação a um nível à parte. Créditos também para Rush, que encarna seu Lionel Logue de maneira sentimental e engraçada. Até mesmo os exageros de Helena Bonham Carter aqui não surgem, e ela trata a esposa de George com ternura imensurável. E os secundários Guy Pearce e Michael Gambon trabalham seus personagens meticulasamente e tecem monarcas interessantes de se ver. Assim como o elenco de Bravura Indômita, o de O Discurso do Rei é irretocável e merece as indicações que teve. Afinal, como não rir com os treinos de Logue e Bertie, ou se emocionar com as impossibilidades de Bertie diante de seu pai e seu irmão? Torço muito para que Colin Firth confirme seu favoritismo.

Além do elenco, outros aspecto importante da obra é seu roteiro, pela história intimista que narra e nos captura, já que mesmo no fim do filme, quando George faz seu discurso, imergimos na superação do personagem e em sua vitória, e não no fato de que naquele momento, para o resto do mundo só havia sombra, tensão e tristeza, afinal uma guerra se iniciava. Além dele temos também a Direção de Arte e Figurino, que recria tão bem aquela época inglesa ao ponto de sermos transportados para um estádio imenso ou um elevador apertado. E créditos também para a Mixagem de Som, que retrata as falas de Firth, seja ao microfone ou não, de forma clara, ao ponto de sofrermos com o personagem por seu problema de dicção.

Sempre deixei muito claro que meu favorito era A Origem e isso não mudou. Contudo, como é mais fácil torcer para time que está ganhando e sei que o filme de Nolan tem poucas chances, aposto em O Discurso do Rei que, sinceramente, não tem falhas e me conquistou do início ao fim. Merece ser o grande vencedor da noite.
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Indicações:
Melhor Filme
Melhor Atriz (Jennifer Lawrence)
Melhor Ator Coadjuvante (John Hawkes)
Melhor Roteiro Adaptado
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Inverno da Alma corre por fora, não por ser ruim, muito pelo contrário. É um filme profundo, carregado de intensidade e realismo e que, só não é tocante, por ser frio, com a permissão do trocadilho.

A jovem Ree (Jennifer Lawrence) convive com uma mãe doente e ausente, dois irmãos pequenos e um pai desaparecido num casebre em uma região fria e agreste. Ao descobrir que sua casa foi dada como fiança pelo pai, ela parte numa jornada para descobrir seu paradeiro tendo que enfrentar a desconfiança dos vizinhos e parentes e sem contar com apoio algum, enquanto tenta manter a ordem em seu lar.

Com essa história, Inverno da Alma mergulha num universo bruto, masculino e sem vida, enquanto acompanhamos uma jovem que tenta lidar com a cultura arraigada daqueles que a cercam para salvar os fragmentos de sua família. É, portanto e antes de mais nada, um retrato doloroso da sobrevivência de Ree e uma mostra da crueza de lugares assim que ainda persistem no mundo. Abordando temas complexos de maneira sutil como a predominância masculina e o uso de drogas, a obra em nenhum momento envolve realmente seu espectador, e o que poderia ser um defeito, se torna um dos grandes trunfos do filme, já que a todo momento vemos Ree e suas dificuldades, mas sabemos que aquilo é o seu mundo e que ela faz parte dele, então é aceitável.

Contando com ótimas interpretações, inclusive de John Hawkes, que faz Teardrop, o tio de Ree, com perfeição, Inverno da Alma não deve ter destaque nem mesmo nos prêmios dos atores e ficará como lembrança apenas por estar entre os indicados, assim como o próximo filme da lista.
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Indicações:
Melhor Filme
Melhor Atriz (Annete Benning)
Melhor Ator Coadjuvante (Mark Ruffalo)
Melhor Roteiro Original
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Assim como Bravura Indômita e O Discurso do Rei, Minhas Mães e Meu Pai (título horrível da tradução) consegue convencer com seu elenco, contudo, ao contrário dos outros dois, este filme só têm como méritos os seus atores. Se Inverno da Alma já estava fora do páreo, essa obra fica ainda mais longe.

Contando a história dos irmãos Joni e Laser, filhos das lésbicas Nic (Benning) e Jules (Julianne Moore) por inseminação artificial, acompanhamos a trajetória dos dois ao conhecerem seu pai biológico Paul (Mark Ruffalo) e as consequências dessa união familiar.

Os problemas em Minhas Mães e Meu Pai já começam quando ele toma como premissa ser um filme descolado, atual e livre de preconceitos, assim como fez Juno, mas que para este isso não foi de todo mal. Ao abordar os acontecimentos dessa forma, sua diretora, Lisa Cholodenko, perde a mão e exagera, porque tudo no filme acaba sendo descolado demais. Desde os nomes de seus filhos, passando pela relação do casal, até os namoros e as maneiras de agir e pensar de Paul, tudo acaba soando artificial. Se a obra apenas pincelasse coisas aqui e ali, poderia ter sido um bom filme, mas como resolve jogar tudo num balde só, acaba transbordando.

Seu roteiro é fraco, por ser previsível, já que em nenhum instante temos dúvida de como aquela situação vai terminar, e nas poucas vezes que tenta surpreender, faz de maneira jogada, como se quisesse unicamente mexer com o espectador, mas sem dar nenhum nexo para isso. Afinal, como explicar o romance entre Paul e Jules? O casal até que tem química, mas isso não basta para que aceitemos aquele percalço na história da família. O que dizer então de seus personagens secundários, como o amigo de Laser e o namorado de Joni? Com grande importância até a metade da obra, eles simplesmente são relegados ao limbo depois e toda aquela história fica perdida.

Como frisei no começo dessa crítica, se sobra algo de bom desse filme são seus três atores principais, Ruffalo, Moore e Benning, que fazem o que podem com um roteiro capenga e pintam personagens que transbordam realidade pelo simples fato de surgirem em cena como são, sem maquiagem e sem esconder seus defeitos, o que acaba se tornando o único grande mérito da produção. É uma pena ver tão bons atores desperdiçados de tal maneira.

Próximo!
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Indicações:
Melhor Filme
Melhor Roteiro Original
Melhor Direção de Arte
Melhor Fotografia
Melhor Trilha Sonora Original
Melhores Efeitos Visuais
Melhor Edição de Som
Melhor Mixagem de Som
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Agora sim, cheguei aonde queria. Ao melhor filme da lista, e também ao mais injustiçado, tanto nas indicações quanto será no dia da premiação. Guardem essa data: 27 de fevereiro de 2011, o dia em que o Oscar ainda se revelará antiquado ao ignorar um dos melhores filmes do ano unicamente por se tratar de uma ficção-científica. Espero que minhas previsões estejam erradas, mas duvido muito que A Origem consiga algum trunfo além das categorias técnicas. Quem sabe reste ainda um pouco de bom senso e eles premiam Nolan com Roteiro Original, já que o cortaram sumariamente da indicação a Diretor. E antes de entrar na crítica de verdade, mais um protesto: Com que desculpa os votantes da Academia deixaram A Origem de fora da indicação de Melhor Montagem/Edição? Como ignorar completamente a estruturação visual/narrativa dos sonhos dentro de sonhos e do despertar magistralmente conduzido por Nolan e o montador Lee Smith no fim do filme? Queime no inferno, Academia!

Retomando a compostura, vamos ao enredo: em A Origem acompanhamos a história de Don Cobb (Leonardo DiCaprio, também não indicado a Melhor Ator), um ladrão de ideias que faz de sua profissão, algo maravilhoso. Invadindo os sonhos de suas vítimas, Cobb manipula suas lembranças e desejos e obtém de seus subconscientes aquilo que quer. Ao tentar empregar a mesma tática com o milionário Saito (Ken watanabe), Cobb e equipe falham e passam a ser perseguidos pela empresa que os contratou. Porém Saito surge com uma proposta desafiadora: salvará a pele do ladrão e de seus companheiros se estes trabalharem para ele. Mas ao invés de roubarem uma idéia, eles terão que inseri-la na mente de Robert Fisher (Cillian Murphy, sempre extraordinário). Reunindo auxílio ao redor do mundo, que conta com Arthur (Joseph Gordon-Levitt), Eames (Tom Hardy) e Ariadne (Ellen Page), Cobb começa a tecer seu plano para pôr em prática a inserção, enquanto é atormentado pela lembrança de sua esposa suicida Mal (Marion Cotillard). O filme ainda conta com Michael Caine e o falecido Pete Postlethwaite no elenco.

Assim como Aronofsky, Christopher Nolan teve até aqui uma carreira excepcionalmente brilhante, que culmina em seu ápice com esse A Origem, uma das melhores ficções de todos os tempos. E fica a pergunta: como pode alguém ignorar uma obra assim? Como bem disse um amigo meu, "A Origem é um filme em todos os sentidos". E de fato. Traz um elenco de peso, uma direção e história impecáveis, uma trilha sonora, composta pelo sempre competente Hans Zimmer, sombria e vibrante e com traços da canção de Piaf tão bem encaixados nas composições, efeitos visuais inegáveis e conta, ainda por cima, como uma grata surpresa, já que é um filme complexo, que teve um trailer que disse muito pouco ou mesmo nada sobre seu enredo, mas que arrecadou mais de 800 milhões ao redor do mundo. Com todos esses aspectos, a película só não se torna mesmo a grande vitoriosa na noite da premiação por não se encaixar nos padrões dos votantes que decidem quem é bom ou não.

De qualquer maneira, a não ser que uma insanidade temporária tome conta do Oscar, ficam para A Origem os troféus técnicos como prêmio de consolação, e se fizerem uma forcinha, premiam ainda o brilhante roteiro desenvolvido por Nolan durante dez anos, impedindo assim que o diretor seja relegado ao nada.

A Origem é o filme mais bem orquestrado e concatenado que vi nos últimos tempos e dificilmente será esquecido. Para ler mais sobre ele, veja minha crítica na época de seu lançamento.
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Indicações:
Melhor Filme
Melhor Ator (Jesse Eisenberg)
Melhor Diretor (David Fincher)
Melhor Roteiro Adaptado
Melhor Fotografia
Melhor Montagem
Melhor Trilha Sonora Original
Melhor Mixagem de Som
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A Rede Social tinha tudo para ser o grande vencedor do Oscar 2011, mas nas últimas semanas perdeu fôlego, e como para a Academia, tudo se baseia em campanhas, é capaz de perder feio mesmo para O Discurso do Rei.

Através do filme conhecemos a história do criador do Facebook, Mark Zuckerberg (Eisenberg), que tem inteligência e carisma inversamente proporcionais. Devido sua falta de traquejo social, Zuckerberg, na época um estudante de Harvard, resolveu desenvolver uma página de relacionamentos com seus amigos, entre eles Eduardo Saverin (Andrew Garfielf, o futuro Homem-Aranha). Sendo bancado por Saverin, Mark criou um produto que logo o alavancou ao sucesso e que passou a ganhar acessos numa proporção geométrica, porém, quando a coisa toda assumiu o conhecimento global, os problemas do gênio começaram a surgir. Primeiro, os gêmeos Winklevoss (Armie Hammer) passaram a acusar Zuckerberg de roubo da ideia, já que afirmam que foram eles os preceptores do Facebook, que seria conhecido como HarvardConnection. Em segundo, mal orientado pelo criador do Napster, Sean Parker (Justin Timberlake), acabou retirando da criação seu maior patrocinador e amigo, Saverin. Assim, tanto os gêmeos quanto o amigo, processaram Zuckerberg, criando toda uma série de conflitos para o gênio anti-social.

Não se pode negar que A Rede Social é um bom filme, afinal conta com um elenco afiado, uma história curiosa e é todo banhado em inteligência pelos diálogos sagazes concebidos por Aaron Sorkin (de West Wing e Studio 60 On The Sunset Strip). Porém, ao contrário do que tanta gente achou, não o vejo nem de longe como o melhor dos dez concorrentes. Se pudesse colocá-lo em alguma posição ficaria entre quinto, sexto ou mesmo sétimo lugar, ficando atrás de A Origem, Cisne Negro, Toy Story 3, O Vencedor e outros. Não que o filme seja ruim, mas só não consegui absorver dele toda essa inteligência e história monumental que me disseram ser. É apenas um momento na vida de um gênio sacana que soube aproveitar as oportunidades e ideias de terceiros para se tornar um bilionário. Percebam como quase nada partiu do próprio Zuckerberg, que só converteu as migalhas que lhe eram deixadas em códigos de computador. Não é uma história de superação, não tem personagens extremamente cativantes, não nos envolve por não temermos pelo seu principal personagem e nem mesmo tem um desfecho convincente, já que termina onde tudo começou, com um Zuckerberg esquecido por todos e considerado um cretino, assim como foi por sua namorada na época da criação do Facebook.

Como citei no início da postagem, filme não é só técnica, mas também envolvimento, seja de forma arrebatadora como fez A Origem, seja tocante como em O Discurso do Rei, ou propositalmente distante como em Inverno da Alma, e A Rede Social não despertou tal sentimento.

Sendo assim, resta-me analisar em termos de premiação: a briga entre diretores deve mesmo ficar entre David Fincher e Darren Aronofsky, mas pode sobrar também para Tom Hooper, caso seu filme se consagre vencedor. Como Roteiro Adaptado, A Rede Social vai brigar feio com Bravura Indômita e Toy Story 3, mas tem grandes chances de conceder a Sorkin, um excelente roteirista, a estatueta. Já Jesse Eisenberg, apesar de fazer um ótimo trabalho, tem pouca oportunidade aqui devido a sua idade, e vai ter mais produções pela frente antes de chegar ao palco para receber o seu. Por fim, pode restar para A Rede Social ainda o prêmio de Trilha Sonora, já que essa é conduzida impecavelmente, alavancando vários momentos do filme.

Enfim, A Rede Social foi apenas interessante.
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Indicações:
Melhor Filme
Melhor Roteiro Adaptado
Melhor Animação
Melhor Canção Original (We Belong Together)
Melhor Edição de Som
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Não tenho nem muito o que dizer de Toy Story 3, mais uma obra impecável da Pixar. Se fosse um filme, seria o preferido e o grande ganhador do Oscar 2011. Por se tratar de uma animação, sairá como melhor em sua categoria e, se está entre os dez melhores é por protocolo. Mas se trata de um filme apaixonante e não perde nem um pouco por ser uma segunda sequência de seu original, ao contrário do que ocorre com a maioria das continuações.

Voltando aos velhos amigos Buzz e Woody, encontramos seu dono, Andy, agora crescido e se preparando para ir a faculdade. Então surge a dúvida: o que fazer com aquele amontoado de brinquedos incríveis que marcaram sua infância? Sabendo do pensamento que cerca a mente do garoto, os brinquedos começam a desenvolver uma apreensão que vai além daquela que sempre surgia nos aniversários. Numa série de eventos catastróficos, Woody e seus amigos acabam relegados a um hotelzinho e tendo que conviver com novos brinquedos, crianças descontroladas, a ameaça do urso Lotso e, ainda pior, distante de Andy. Começa aí uma jornada cheia de desafios e extremamente intensa para retornar para casa.

Contando com um final relativamente triste, o primeiro da Pixar, Toy Story 3 fecha o arco de uma das maiores produções do estúdio e é impecável. Como citei, se fosse um filme, estaria em todas as categorias, com direito ao caubói Woody concorrendo a Melhor Ator. Como não, resta torcer para que leve mesmo o prêmio de Melhor Animação, sem desmerecer o excelente Como Treinar Seu Dragão, também merecedor do Oscar.
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Indicações:
Melhor Filme
Melhor Diretor (David O. Russel)
Melhor Ator Coadjuvante (Christian Bale)
Melhor Atriz Coadjuvante (Melissa Leo)
Melhor Atriz Coadjuvante (Amy Adams)
Melhor Roteiro Original
Melhor Montagem
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Mais um filme onde as atuações falam por si, mas nem por isso se torna um filme qualquer. O Vencedor é um daqueles capazes de tocar na alma, pois conta também uma história de superação. Ao contrário de O Discurso do Rei, no entanto, essa superação não diz respeito apenas ao seu personagem principal, mas a todos aqueles que o cercam.

O filme conta a história de Micky Ward (Mark Wahlberg, subestimado mais uma vez), o cacula de uma família que tem o boxe nas veias eque tenta superar as atribulações familiares e de sua carreira para atingir o ápice onde um dia esteve seu irmão Dicky Eklund (Christian Bale). Na pequena cidade de Lowel, tomada pelo vício do crack, Micky luta não só para resgatar seu irmão do vício como tem que lidar com uma mãe neurótica (Melissa Leo) e irmãs ainda piores, numa eterna rixa com sua namorada (Amy Adams).

As grandes cartadas de O Vencedor devem ficar mesmo por conta de seus coadjuvantes, que levarão os de Ator para Bale e Atriz para Melissa Leo, numa disputa interna com Amy Adams, já que para Melhor Filme há poucas chances. Talvez possa surpreender e abocanhar o prêmio de Roteiro Original, e quem sabe até levar a Melhor Montagem, já que a Academia demonstra certa preferência por filmes que abordam essa temática e que lidam com sua edição em cima de um ringue. Como diretor, Russel está quase fora da disputa, já que concorre com os favoritos David Fincher e Aronofsky e ainda fica atrás de Tom Hooper com O Discurso do Rei.

Ainda assim, independente de Oscar, é um filme que recomendo, já que envolve e é extremamente bem trabalhado de forma a apresentar a época em que a história se passa como se realmente estivéssemos a vivenciando, o que se revela nos cabelos dos personagens, nos carros utilizados, ou mesmo nos traquejos de cada um. E como não se emocionar com o sofrimento silencioso pelo qual passa Dicky, que acredita que está sendo filmado pela HBO para o seu retorno aos ringues, quando na verdade está servindo como exemplo para um documentário sobre o que a droga fez com sua cidade. Se Bale não levar esse prêmio para casa, desisto do Oscar, definitivamente.
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Cinema em Coluna
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Agora, para encerrar essa postagem sem fim, vamos ao resultado da votação do Cinema em Coluna, uma brincadeira feita aqui no blog onde qualquer um que desejasse poderia votar nos seus preferidos nas principais categorias. Postarei esses resultados de duas maneiras. A primeira serão os escolhidos pelo público em geral. A segunda serão os meus escolhidos de cada categoria.
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Melhor Filme (Votantes: A Origem / CeC: O Discurso do Rei)
Melhor Ator (Votantes: James Franco / CeC: Colin Firth)
Melhor Atriz (Votantes: Natalie Portman / CeC: Natalie Portman)
Melhor Diretor (Votantes: Darren Aronofsky / CeC: Darren Aronofsky)
Melhor Ator Coadjuvante (Votantes: Christian Bale / CeC: Christian Bale)
Melhor Atriz Coadjvante (Votantes: Helena Bonham Carter / CeC: Melissa Leo)
Melhor Roteiro Original (Votantes: A Origem / CeC: A Origem)
Melhor Roteiro Adaptado (Votantes: A Rede Social / CeC: A Rede Social)
Melhor Direção de Arte (Votantes: A Origem / CeC: O Discurso do Rei)
Melhor Fotografia (Votantes: Cisne Negro / CeC: Cisne Negro)
Melhor Maquiagem (Votantes: O Lobisomem / CeC: O Lobisomem)
Melhor mixagem de Som (Votantes: A Origem / CeC: A Origem)
Melhor Edição de Som (Votantes: A Origem e Tron / CeC: A Origem)
Melhor Figurino (Votantes: O Discurso do Rei / CeC: O Discurso do Rei)
Melhores Efeitos Visuais (Votantes: A Origem / CeC: A Origem)
Melhor Trilha Sonora (Votantes: A Origem / CeC: A Origem)
Melhor Animação (Votantes: Toy Story 3 / CeC: Toy Story 3)
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Agradeço aos que me acompanharam até o final da postagem, pois nem eu mesmo quis me seguir, e aos que votaram no Cinema em Coluna. Vamos agora aguardar pela festa mais esperada do cinema mundial e torcer!