Crítica: Studio 60 On The Sunset Strip

Tenho que admitir que comecei a assistir a série por causa dos restos de Friends. Quem é apaixonado pelo maior show de comédia da TV sabe o que quero dizer. Vamos atrás de todo e qualquer trabalho que os seis atores que interpretaram os grandes amigos de Nova York possam fazer. Talvez possa parecer exagero, mas é através dessas incursões malucas que descobrimos raridades, e uma delas é Studio 60 On The Sunset Strip.

Para quem não sabe do que falo, esse seriado televisivo foi criado e roteirizado por Aaron Sorkin (o mesmo de The West Wing e do filme A Rede Social), estrelado por Matthew Perry (Chandler Bing, de Friends) e aclamado pela crítica. Exibido nos anos de 2006 e 2007, Studio 60 durou apenas uma temporada com 22 episódios, e é aí que entram as perguntas: Se era tão bom, por que existiu apenas por uma temporada? Aceito pelos críticos dessa maneira efusiva, como pôde terminar tão cedo? Meus caros leitores, a única resposta que posso conceder é: não sei!

Desde os minutos iniciais, é impossível não se apaixonar pela série. Contando a história dos bastidores de um programa de TV de mesmo nome que já dura vinte temporadas, Studio 60 aborda os mais variados temas sem ser confuso. Quando o produtor, Wes Mendell, resolve interromper uma exibição entrando ao vivo para falar mal da política utilizada pelas emissoras de televisão, é sumariamente demitido por expor a verdade para uma grande audiência em rede nacional. O canal NBS, que produz o programa, vê-se então com um grande problema em mãos: como apagar o que foi dito por Mendell e reestruturar o show que é o carro-chefe da casa e já vinha com certos problemas? Para resolver a questão, uma nova presidente de programação é contratada e esta, por sua vez, decide chamar de volta dois dos produtores executivos que já participaram do programa, mas foram demitidos no passado. É nesse ponto que surgem Daniel Tripp e Matthew Albie, que têm como missão, reacender a chama de Studio 60, trazer de volta sua audiência e reverter o problema criado por Mendell. E isso é apenas o começo da história.

Como citei antes, a série real, Studio 60, lida com vários temas enquanto retrata os bastidores de seu programa fictício. Indo de assuntos complexos como religião, sexo, política e relacionamentos, a série traz abordagens para tais pontos de maneira genial. Consegue ser inteligente sem apelar, manter sempre o nível e usar de diálogos rápidos sem se perder. Studio 60 poderia muito bem ter virado um simples programa de TV sobre um programa de TV, ou uma comediazinha barata, mas acabou se tornando um show feroz e ácido, sempre ágil e com personagens, atuações e reviravoltas que nos surpreendem a cada novo episódio.

Já tendo citado seu elenco incrível, cabem agora os créditos. Além de Matthew Perry, o seriado conta com os veteranos Bradley Witford no papel do outro produtor executivo, Amanda Peet como a nova presidente de programação, Steven Weber ocupando o lugar de presidente da NBS, Timothy Busfield como o diretor do programa em si, e os atores D.L. Hughley, Sarah Paulson, Nathan Corddry, Nate Torrence e Simon Helberg (Howard, de The Big Bang Theory) fazendo os pápeis de atores do programa. Vale ressaltar também sua excelente trilha sonora, que sabe se encaixar em cada momento, seja ele cômico ou dramático. Além disso, Studio 60 conta com incríveis participações no decorrer de seus episódios que vão desde John Goodman, passando por Sting, Masi Oka e Gran Bel Fisher, e culminando num Joaquin Phoenix irreconhecível.

A coragem demonstrada por Aaron Sorkin e a equipe criativa de Studio 60 On The Sunset Strip não tinha limites. Eles eram capazes de abordar o ateísmo em seus episódios, criticar Deus e o presidente norte-americano, falar das guerras contra o terror, mostrar o estilo Tio Sam de viver como algo errado e falar mal da própria televisão que os dá de comer sem deixar de lado a história e o desenvolvimento de seus personagens. Com todos esses atributos, Studio 60 se tornou uma das melhores séries de TV de todos os tempos, e mais uma vez recaímos no grande mistério que cerca o cancelamento prematuro do show. Então, vamos às explicações plausíveis:

Sabemos, antes de mais nada, que ao contrário da televisão brasileira, nos Estados Unidos, os programas sobrevivem pela audiência. O fato desta diminuir a cada novo episódio foi fator decisivo para que a série chegasse ao fim. O que pode ter causado isso? Ainda é uma grande incógnita para muita gente, bem como para mim. Só posso deduzir que tenha a ver com a sagacidade e agilidade do seriado, com a forma como abordava várias histórias ao mesmo tempo e, principalmente, pela maneira como criticava tudo o que os americanos mais apreciavam. A inteligência de Sorkin e equipe foi demais para os cérebros americanizados. Só assim é possível entender como Studio 60 não foi para frente.

De qualquer forma, seu término não se tornou algo drástico, já que tivemos 22 episódios de um programa fechado, sem brechas, bem polido e com um final perfeito. Ao contrário do que poderia ocorrer caso o show continuasse, culminando no seu desgaste, seu encerramento criou essa pérola televisiva que o torna inesquecível para quem quer que o assista. Studio 60 On The Sunset Strip foi um desses acontecimentos televisivos que só ocorrem de tempos em tempos, e merece todos os créditos pelo que fez.

Infelizmente, aqui no Brasil, não foi lançado em DVD, deixando para nós, pobres mortais a opção de baixá-lo. Garanto, no entanto, que o esforço compensa e que Studio 60 ficará em suas mentes da mesma forma que se fixou na minha. Até esqueci de Chandler Bing!