Continuando o aquecimento para a maior premiação do cinema mundial, venho aqui fazer uma análise dos vencedores (e daqueles que saíram de mãos abanando) nas últimas edições da festa, de modo a tentar prever um possível ganhador para o evento daqui a alguns dias. Claro que tudo não passa de mera especulação, afinal, como bem verão, é complicado tentar adivinhar quem levaria para casa o Oscar de Melhor Filme em tempos como esses, em que a Academia tenta inovar e surpreender. Para se ter uma ideia, quando os concorrentes ao principal prêmio foram indicados, se especulou um ganhador: A Rede Social. Porém, com o decorrer dos dias, o que se viu foi uma guinada para outra produção, O Discurso do Rei, que comendo pelas beiradas até então, acabou recebendo o maior número de indicações e agradou muitos críticos com sua forma técnica de se fazer cinema. Enfim, vamos às análises dos últimos dez anos de Oscar, e depois teço mais comentários.
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2001
Indo contra todas as expectativas, quem se consagrou vencedor da noite foi a superprodução épica, Gladiador. Com Russel Crowe levando o prêmio de Melhor Ator pelo mesmo filme, a noite surpreendeu e fez muitos torcerem o nariz, afinal, mesmo sendo Gladiador a obra que marcou o ressurgimento de épicos no cinema e trazendo uma história que cativa o público até hoje, não era o merecedor da estatueta por ser uma película falha. De acordo com muitos, aquele que deveria ter levado o Oscar era Traffic.
No mesmo ano concorriam também Chocolate, O Tigre e O Dragão e Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento.
Como se pode notar, sendo justo ou não, Gladiador levou o prêmio num ano de vacas magras, já que nenhuma das produções era exatamente surpreendente ou fantástica como ele.
2002
Russel Crowe estava com pé quente nessa época e mais um filme estrelado por ele foi o vencedor da noite: Uma Mente Brilhante. Nesse ano, outros três filmes mais fracos estavam na briga: o chatíssimo Assassinato em Gosford Park, Moulin Rouge, que só marcava presença devido o amor dos norte-americanos pelos musicais, e Entre Quatro Paredes, que não vi. O grande concorrente de peso para a história do matemático John Nash era o início da saga de Frodo em O Senor dos Anéis - A Sociedade do Anel.
Fica difícil admitir quem seria o mais capaz entre os dois, visto que aprecio bastante as duas obras, mas mesmo sendo apaixonante a história narrada em Uma Mente Brilhante, acredito que o verdadeiro merecedor, O Senhor dos Anéis, só não venceu pelo eterno preconceito da Academia por filmes de fantasia e ficção-científica.
2003
Se no ano anterior o Oscar de Melhor Filme não pôde parar nas mãos de um musical, nada melhor que fazer "justiça" e premiar o musical do ano seguinte conhecido por Chigaco. Ora, gostos à parte, mas num ano que tinhamos O Pianista, com Adrien Brody na interpretação de sua vida, o brilhante As Horas, com uma das melhores trilhas sonoras já compostas (créditos para Phillip Glass) e a segunda parte de O Senhor dos Anéis - As Duas Torres, por que diabos premiar um filme meia boca? Isso revela que, apesar de os votantes da Academia tentarem vez por outra inovar, ainda mantêm suas mentes no passado, dando a filmes fracos prêmios que não se enquadram apenas por aquelas mesmas películas se encaixarem no formato desejado.
2004
Enfim, deixando de lado o preconceito, o trabalho árduo de Peter Jackson e equipe teve o reconhecimento que devia. O Senhor dos Anéis - O Retorno do Rei foi o melhor da noite de maneira justa. Claro que Sobre Meninos e Lobos, uma das obras-primas do irregular Clint Eastwood, e Encontros e Desencontros, de Sofia Copolla, também eram ótimos filmes, mas o fechamento da saga do Anel foi um acontecimento único.
2005
Falando em Clint Eastwood, nesse ano o Oscar decidiu se desculpar, assim como havia feito com Moulin Rouge e Chicago, e premiou seu Menina de Ouro, que nem de longe é um dos melhores da filmografia do diretor. Tudo bem que seus concorrentes também não eram excepcionais, vide O Aviador e Ray, mas ainda havia o encantador Em Busca da Terra do Nunca e o sóbrio Sideways - Entre umas e outras.
2006
Devia ter sido a noite de O Segredo de Brokeback Mountain, mas foi um desses anos singulares em que a premiação decidiu se reinventar e concedeu a estátua dourada a Crash - No Limite. Não que Crash não seja um bom filme, muito pelo contrário, mas Brokeback Mountain era o melhor. No mesmo ano concorriam Munique, Capote e Boa Noite e Boa Sorte.
2007
Foi a vez do remake e o momento, tão aguardado, de Martin Scorsese, e nada mais justo que consagrar o excelente filme policial Os Infiltrados, com o roteiro surpreendente e atuações brilhantes. Havia ainda Babel, que não chegava aos pés de 21 Gramas, por exemplo, Cartas de Iwo Jima, mas Eastwood já tivera a vez dele e o entediante Rainha. Se havia um concorrente de peso era Pequena Miss Sunshine, porém Scorcese estava mesmo no caminho.
2008
Gosto muito dos filmes dos irmãos Coen, mas tenho que admitir que achei Onde os Fracos Não Têm Vez uma obra entediante. Talvez concedesse três estrelas a esse filme apenas pelas ótimas interpretações, um ponto em que os irmãos diretores são sempre perfeitos, já que conseguem extrair o máximo de seus atores em roupagens inusitadas. Acredito sinceramente que o prêmio estaria em melhores mãos se tivesse ido para Sangue Negro ou mesmo Juno.
2009
O colorido Quem Quer Ser o Milionário foi a bola da vez. Injusto, dizem alguns. Se foi, realmente não posso afirmar, mas não há como deixar de lado outras produções como Milk - A Voz da Igualdade, O Leitor, Frost/Nixon e O Curioso Caso de Benjamim Button.
2010
Dessa vez, e não há como negar, a Academia inovou mesmo. Se não na entrega do prêmio, pelo menos ao trazer de volta dez concorrentes em sua categoria principal, coisa que, se não me engano, não ocorria desde 1943. Eram eles: Avatar, Guerra ao Terror, Um Sonho Possível, Distrito 9, Educação, Bastardos Inglórios, Preciosa, Um Homem Sério, Amor sem Escalas e Up- Altas Aventuras.
Quem levou foi Guerra ao Terror, contrariando as previsões que o tecnicamente perfeito Avatar ganharia.
2011
Como se pode notar, não dá para tirar muitas conclusões ao se basear apenas nos vencedores dos últimos anos, porém, se olharmos unicamente para a premiação mais similar àquela que ocorrerá em 27 de fevereiro, justamente a do ano passado, podemos extrair certas semelhanças. Se eu pudesse traçar similaridades, a coisa seria assim: enquanto em 2010 havia Avatar e Distrito 9, duas ficções-científicas de alto nível, esse ano temos A Origem, o excelente filme de Nolan. Para Guerra ao Terror há O Discurso do Rei, duas obras enxutas. Sendo duas produções de Joel e Ethan Coen, estão na mesma linha Um Homem Sério e Bravura Indômita. Nem preciso dizer com qual Toy Story 3 se encaixa, não é mesmo? Minhas Mães e Meu Pai teria Um Sonho Possível como similar, 127 Horas seria Bastardos Inglórios, assim como O Vencedor estaria para Preciosa. Já A Rede Social, Cisne Negro e O Inverno da Alma não teriam suas representações, mas a partir desses parâmetros já seria possível tentar entender para quem iria o prêmio de Melhor Filme.
A Origem é fantástico demais para os olhos antiquados dos votantes. A Rede Social é jovem, assim como era Juno em seu ano. 127 Horas é surpreendente, mas Danny Boyle já foi agraciado por Quem Quer Ser Um Milionário? O mesmo ocorre com Bravura Indômita. Toy Story é uma animação. O Inverno da Alma corre bem pelas beiradas, assim como Minhas Mães e Meu Pai. O Vencedor é real e emocionante, mas não inovador. Diante disso, se as previsões se concretizassem, o Oscar teria como vencedor ou O Discurso do Rei, que se encaixa perfeitamente num dos estilos que A Academia adora, ou Cisne Negro, que tem o potencial de filmes como Uma Mente Brilhante.
Se nesse ano de 2011 eles se mantiverem na linha, o grande vencedor será mesmo O Discurso do Rei. Se tentarem ousar, o máximo que conseguiriam seria conceder a vitória a Cisne Negro. Se ousarem demais, o que muito duvido, pode ficar para A Origem ou A Rede Social. E você aposta em qual?