Crítica: Rango


Rango é a primeira animação da Industrial Light & Magic, estúdio de George Lucas, bem como a primeira incursão de Gore Verbinski (diretor de Piratas do Caribe, O Chamado e O Ratinho Encrenqueiro) nesse mundo. Com exceção da Pixar, a grande produtora por trás de Toy Story, Wall-E e Procurando Nemo, só para citar alguns, a maioria dos estúdios que decidem se inserir nesse novo mercado acabam fracassando. O universo da animação não é para todos, mas ao contrário do que se poderia esperar, é com competência que Verbinski conduz seu primeiro passeio pelo "puramente digital".

Rango conta a história de um camaleão de aquário com crise de identidade que, de uma hora para outra, acaba se vendo perdido no meio do deserto de Mojave. Chegando à cidade de Poeira, resolve bancar o héroi, usando de seus talentos artísticos, mas acaba se envolvendo numa trama muito maior que sua coragem permite.

Antes de mais nada, Rango é um delírio visual e técnico. Com o enorme auxílio de Roger Deakins (Bravura Indômita), a fotografia do filme é impecável ao retratar aquele mundo seco e empoeirado e a textura dada aos cenários e personagens se aproxima tanto do real que às vezes fica difícil ter certeza se estamos vendo um animal de verdade ou uma simples criação de computador. Já Hans Zimmer (A Origem) compõe mais uma trilha sonora fantástica que mistura elementos de faroeste clássico com canções que conhecemos tão bem indo desde os temas de 2011 - Uma Odisséia no Espaço até Pulp Fiction, mas tudo de maneira tão orgânica que em nenhum momento aquela inserção é utilizada apenas como pretesto para fazer rir.



Assisti à versão dublada, então nada posso dizer das vozes de Johnny Deep, Ray Winstone ou Alfred Molina, mas em nenhum instante a versão brasileira fica por baixo, nos brindando com interpretações que caem como uma luva para cada um dos seus personagens.

Nesse novo filme, Gore Verbinski se revela mais uma vez um diretor competente que, se nem sempre é perfeito, ao menos consegue saltar entre gêneros facilmente, vide sua filmografia, e desenvolver tudo com uma técnica apurada, já que Rango é divertido, tenso e tão realista ao recriar a atmosfera do Velho Oeste que acreditamos estar assistindo a mais uma clássica história de "bang-bang".

Entre tantos aspectos positivos há um erro e esse diz respeito ao roteiro de John Logan, que se é impecável ao traçar determinados momentos da trama, como os sonhos de Rango, e criar características para seus personagens, falha ao dar a um filme tão competente uma história tão batida de alguém sem coragem que se torna herói da noite para o dia. Podendo ter explorado muito mais as inabilidades do camaleão, ele apenas se entrega rapidamente à ideia de que agora ele é o xerife, portanto pode assumir tarefas que muito o exigem sem pestanejar.

Deixando esse pequeno pecado de lado, Rango é um filme de encher os olhos, sagaz, divertido e, principalmente, corajoso ao brincar com um tema que anda tão em baixa no cinema atual. Torcer para que a escalada da Industrial Light & Magic seja tão fantástica quanto foi e é a da Pixar.