Dobrando a esquina, fui surpreendido por uma figura soturna, suja e que nada entendia de português. Apontava em minha direção qualquer coisa de metal me exigindo que lhe passasse o aparelho celular e a carteira. Ele parecia que ia ter um ataque epiléptico de tanto que tremia.
Posso dizer que, por sorte, não estava com o telefone, graças a minha memória fortuita que me fizera o favor de deixá-lo em casa. Mas, relutante, retirei a carteira do bolso, enquanto o pedia para ficar calmo. "Se tô nervoso, o probrema é teu!", me disse, e enfiou os dedos imundos pelas abas da carteira, retirando as cédulas, alguns documentos e uns papéis esquecidos. Enfiou tudo no bolso da calça e me disse, brandindo aquele objeto metálico: "Agora vai andano. Num corre, nem olha pá trás. Tá me ouvino? Tá me ouvino!?"
Me limitei a um meneio de cabeça e dei alguns passos, aguardando pelo pior. Mas ele já tinha virado a esquina, correndo desabalado. Só pude completar o caminho que faltava, torcendo para que nenhum amigo "probremático" daquele assaltante surgisse saltando detrás de uma árvore.
Refletindo mais tarde, tirei uma conclusão do ocorrido. Que a culpa por não ter mais vinte reais na carteira era minha. Que o culpado por ter sido assaltado naquele momento só podia ser eu, afinal, analisem comigo: quem caminhava em plena tarde num dia claro? Quem trajava roupas ordinárias? Quem dobrou aquela esquina?
Só espero que um dia não tentem assaltar a culpa, pois ela é toda minha!
*Esse foi um fato fictício, mas resolvi narrá-lo apenas para mostrar o que poderia ter acontecido com qualquer um; e acontece.