Crítica: Sherlock


A frase que nunca foi dita nas obras de Sir Arthur Conan Doyle ficou de fora de mais uma adaptação do famoso detetive, felizmente.

Quando assisti meses atrás ao filme de Guy Ritchie, diretor com um currículo interessante, gostei da película, mas apenas como trabalho cinematográfico, pois convenhamos, não há quase nada ali do bom e velho Holmes da literatura. É apenas uma filmagem equivocada do trio Downey-Law-Ritchie. Todos os três com grandes méritos artíticos, mas que erraram feio nessa ao tentarem usar um modelo conhecido apenas para vender uma farsa.

Contudo, para meu deleite, a frase do início da postagem não se refere ao Sherlock Holmes de Ritchie, e sim a mais nova adaptação do esplêndido trabalho de Sir Arthur para uma minissérie da BBC. Como sempre, garimpando na internet encontro essas pérolas que provavelmente nunca alcançariam o público brasileiro, fosse através de nossos deploráveis canais da TV aberta ou mesmo em boxes de DVD, visto que obras assim, mais lado B, dificilmente têm chances reais de serem consideradas por "empacotadoras" tupiniquins como a Warner Home Video ou a Universal.

Bem, deixando de lado o fato de que nos resta partir para a ilegalidade e baixar da internet, vamos ao seriado em questão. Seu nome é mais resumido, intitulando-se apenas "Sherlock", mas antes mesmo de assisti-lo, uma só olhadela no título de seu primeiro episódio já faz surgir um sorriso no canto da boca. Ele é "A Study in Pink" (Um Estudo em Rosa, na tradução), e para quem conhece bem os livros de Conan Doyle, é uma paródia bem inusitada - um artíficio interessante por parte dos criadores. Após o título, surge a rejeição ao sabermos que o seriado é retratado nos dias atuais, ou seja, temos ali todos os personagens clássicos, porém correndo pelas ruas londrinas em pleno século XXI.

Você pode me perguntar, caro leitor: E isso não muda muito as coisas? Não distorce todo o clima do Holmes original? De forma alguma, leitor. Em nenhum instante de todo esse primeiro episódio é possível duvidar do que assistimos. Holmes é um personagem atemporal e sua brilhante mente dedutiva se encaixa em qualquer época, e vai além. Os artifícios contemporâneos na verdade apimentam ainda mais todo o enredo. Só o joguete de Holmes com os repórteres através de mensagens SMS pelo celular é admirável.

Os atores então, para mim desconhecidos, encarnam tão bem seus papéis que nem sequer pensamos que Holmes, Watson, Lestrade e companhia já fizeram parte de outro século e de outras roupagens. E ao contrário do filme de Guy Ritchie, lá estão todas as manias de Sherlock como elas deveriam ser, todos os problemas do nada imaginativo Dr. Watson, e até mesmo os coadjuvantes, como a governanta da casa na Baker Street (esqueci o nome dela agora), são retratados com os pormenores que estamos acostumados a ler.

Como se não bastassem todos esses aspectos positivos, "Sherlock" ainda ganha mais pontos com sua trilha sonora que nos insere no clima sombrio londrino e nas cenas de dedução e investigação, que são muito mais envolventes e emocionantes que as de ação do outro Holmes também recente.

Enfim, essa revitalização da BBC deve ser vista por todos aqueles que se julgam fãs do detetive de Conan Doyle, pois Holmes está ali da forma como o odiamos e amamos por todo sempre.


Adendo: a minissérie contará com três episódios completos de aproximadamente 90 minutos cada.