Crítica: O Ritual


Este final de semana foi de cinema para mim. No sábado, pude ver o fantástico O Discurso do Rei, que lidera as indicações para o Oscar 2011. No domingo foi a vez de O Ritual e Cisne Negro, sendo o segundo outro grande potencial para a premiação que se avizinha no dia 27 deste mês. Mas deixando de lado esses dois concorrentes ao Oscar, pois falarei deles e dos outros oito numa postagem especial mais à frente, venho aqui para tecer comentários sobre a nova obra do ícone Anthony Hopkins.

Tendo a carreira marcada pelo seu assassino canibal, Hannibal Lecter, interpretado na trilogia que teve início com O Silêncio dos Inocentes, recentemente Hopkins tem derrapado em certos papéis que não fazem jus ao seu potencial. Porém nesse O Ritual, tanto filme quanto astro parecem ter encontrado o prumo para um tema já batido no cinema.


A película mostra o crescimento conturbado de um garoto, Kovak, que convive com seu pai numa casa que serve também de sustento para os dois. Seu progenitor é um agente funerário que cuida dos seus queridos mortos dentro do lar, preparando-os para os funerais. Amadurecendo entre sombras, o jovem percebe que seu caminho o conduzirá ou para a mesma profissão desempenhada pelo pai, ou para o celibato, já que como ele mesmo justifica, seriam esses os dois únicos segmentos possíveis em sua família. Rumando para a igreja, Kovak chega quase a desistir de tudo quando um acidente muda suas perspectivas. A ele, então, é oferecida a intrigante oportunidade de migrar para Roma, onde concluiria seus estudos num campo obscuro e seleto da igreja católica: o do exorcismo. A partir do instante que seus tutores notam no jovem a dúvida que o faz ser cético e quase ateu, resolvem mandá-lo ao encontro de um antigo padre que tem como forma de vida, unicamente, o exorcismo, para que dali possa adquirir as provas que precisa para estruturar sua crença em Deus.

Nesse ponto encontramos Anthony Hopkins, num papel de mestre, exorcista, descrente e filósofo. Com tantas variantes, o ator poderia muito bem perder as rédeas, mas o que ocorre é exatamente o oposto. Com doses sutis de cada um dos aspectos da personalidade de seu personagem, vemos uma figura que dá vontade de conhecer mais e mais, assim como o filme que o cerca. Se nas obras em questão estamos adaptados a assistir a coisa toda de maneira cinematográfica, com objetos voando em cena e cabeças girando de forma impossível, esse O Ritual preza muito mais pelo realismo e comedimento, investindo na escuridão que domina toda a fita e em referências a outros momentos da história. Se não é de dar sustos o tempo todo, é, ao menos, um filme tenso do começo ao fim. Cabe aqui também o destaque para os atores Rutger Hauer e Ciarán Hinds que interpretam o pai de Kovak e um padre do Vaticano, respectivamente.


Mas O Ritual também tem falhas, e uma delas reside em seu personagem principal, o jovem padre Kovak. O papel é fantástico, bem como o enredo desenvolvido para ele, mas o pobre do ator que o interpreta sofre de um mal do qual não tem culpa, mas que prejudica completamente seus momentos dramáticos quando precisamos levá-lo a sério: o rapaz tem a expressão de Matt Dillon, algo não muito eficaz, e o rosto do nosso comediante Marcelo Adnet. Imaginem quão complicado é envolver-se nas cargas dramáticas de uma figura assim! Além disso, o filme peca por alguns clichês e por um final completamente previsível, já anunciado em seus cartazes, o que se torna uma tremenda mancada da produtora. E a atriz brasileira, Alice Braga, mais uma vez embarca num papel coadjuvante que pouco acrescenta à obra, como na maioria dos projetos que tem feito. Torço para que ela cresça, mas por enquanto é apenas mais uma em Hollywood.

Por outro lado, retornando a Anthony Hopkins, o ator merece os créditos por seu esforço. Além de se tornar a peça-chave da película e aquilo que mais nos atrai para a história, ainda embarca num personagem completamente físico, carregado de maquiagem e demandando um esforço sobrenatural para alguém com sua idade, algo louvável para um ator do seu cacife. Assim como foi para Robert Carlyle em Extermínio 2, Anthony Hopkins não teceu a interpretação de sua vida, mas ganhou pontos com quem conhece e gosta de seu trabalho, e mais uma vez, surpreendeu.